sexta-feira, dezembro 29, 2006

29 de Dezembro de 2006

Saudades dos correios

Eu ainda sou do tempo em que os correios eram… correios.

Eram aquele sítio a que se recorria quando se queira fazer algo relacionado com, vejam lá, correios. Queria mandar uma carta, ia aos correios. Queria um vale postal, ia aos correios, aonde acorria também para levantar uma encomenda.

Agora não. Agora compra-se livros, peluches, adornos, bibelots e pechisbeques. Paga-se luz, água, telefone, telemóvel, seguro e o que mais for pagável. Faz-se tudo e mais alguma coisa. Há aplicações financeiras ao dispor do cliente, ao lado do posto de internet pública que foi plantado perto dos expositores de telemóveis e respectivos cartões e das vitrinas que, um dia destes, exporá o vinho que também está à venda.

Escusado será dizer que, para quem tem a infeliz ideia de tentar comprar um selo ou enviar uma carta, nos correios, a tarefa se revela praticamente impossível.

É que nos meio da amálgama de bugigangas e dos inúmeros serviços que os CTT agora prestam… esqueceram-se de pôr uma ou duas filas, exclusivas – ou pelo menos prioritárias – para quem quisesse um serviço postal.

Serviço mínimo

Esta é uma altura do ano engraçada… O País dá a sensação de entrar em autogestão. Há muita coisa fechada e o que não está trabalha com ritmo de quem desejava estar. Sinal deste estado letárgico são os telejornais.

Ele há com cada reportagem, por altura do Natal, nas televisões portuguesas… que não lembra a ninguém. Então aquela de uma tunisina que veio passar o Natal a Portugal e que por ser tunisina a passar o Natal em Portugal teve direito a ser entrevistada por dois canais diferentes. Que é que isso interessa. Em linguagem Natalícia, até se pode mesmo afirmar que isso não interessa nem ao Menino Jesus. Antes não haver noticiários e passar o Música no Coração…

Vamos lá ver se vai lá C’ajuda

Não resisti ao trocadilho, à graçola fácil. Provavelmente à associação que toda a gente faz quando se fala no nome do novo treinador do Vitória. E que já deve ter sido escrita para cima de um milhão de vezes. Adiante.

Piadinhas secas à parte, vamos ao que interessa. Não era uma figura com quem simpatizasse muito. Achava-o um bocado fanfarrão e até fala-barato.

Agora não. É o treinador do Vitória. Enquanto eu entender que está a servir bem os interesses do meu clube, até me esqueço que ele já nos chamou espanhóis, quando estava ao serviço do Arsenal D’Além Morreira. Temos tréguas. MAS atenção. Esqueço, mas não perdoo. Pelo menos enquanto não o ouvir a chamar marroquinos.

No entanto e na minha modesta opinião, nesta altura, o que menos precisávamos era de mais um clone de Mourinho. Logo, concordo com a escolha da direcção do Vitória. Sim, porque quando acho que fazem bem, também o digo. E neste caso, perante as possibilidades “disponíveis” no mercado, Cajuda parece-me bem.

Quem sabe se com o seu – goste-se ou não, mas que o tem, isso tem – estilo próprio não é o homem certo para o Vitória voltar a ter alguém que fale em seu nome com a saudável arrogância e orgulho de quem defende um grande do futebol! Sem medo de se assumir como favorito a ganhar todos os jogos. Não só sem medo, como sentindo-o como uma obrigação.

Um clube que na apresentação do seu novo treinador tem no complexo desportivo, num dia de semana, cerca de duas mil pessoas, não merece menos que alguém que o tenha como inquestionável favorito e por goleada em qualquer embate da Liga de Honra.

Força Cajuda!

Guimarães no seu melhor

Vou começar uma pequena rubrica, sem periodicidade predefinida, mas a realizar sempre que se justifique. No entanto, para que a mesma tenha sucesso, necessito do contributo dos meus leitores, enviando para o meu endereço de e-mail fotografias de curiosidades, pequenos apontamentos humorísticos, que tenham algo a ver com ou sejam de Guimarães.

Eu sei que o título não é lá muito original, mas uma vez que o jornal – O Independente – onde havia uma rubrica de nome “Portugal no seu melhor”, já não é publicado, eu tomei a liberdade de usurpa-lo, trocando apenas a palavra Portugal por Guimarães.

Começamos então por um letreiro colocado num minimercado ali para os lados de Azurém… pleno de vimaranensidade!!!


Feliz Ano Novo

Umas boas entradas no ano de 2007 para todos os leitores do Noticias de Guimarães, são os votos sinceros deste vosso amigo.

22 de Dezembro de 2006

O fado da moda

Gosto de fado. Não de todo o fado, ou melhor, não de todos os fadistas, mas gosto bastante de fado.

Para além da incontornável e incontestável Amália Rodrigues – a quem tive a honra de, em Alfama, no decurso de uma serenata em sua honra, presentear com uma rosa, já no crepúsculo da sua vida – fico feliz por ver uma série de novos valores a despontarem com qualidade e regularidade, nos últimos tempos. É sangue novo que permite enfrentar o desafio de fazer “perpetuar” o nosso fado, com um sorriso de confiança nos lábios. Ao ouvir uma Mariza, um Camané, uma Mafalda Arnauth, uma Kátia Guerreiro, uma Raquel Tavares eu fico confiante. E orgulhoso da nossa música.

Acho que para que as novas gerações “aprendam” a gostar de fado, muito têm contribuído os projectos de fusão, em que o fado é cantado por intérpretes de outros géneros e fundido com outros ritmos e melodias. Um bom exemplo disso, para mim, é o ChillFado. Um projecto com uma secção melódica de Chill Out, reinventando clássicos do fado. Ou ainda o projecto A NAIFA, já no seu segundo álbum. Ou até um projecto de Yolanda Soares, Fado em Concerto, onde o fado é fundido com Música Clássica.

Sei que muitos puristas do fado ficaram chocados com aquilo que atrás escrevi e com a minha sugestão de audição, mas tive de o fazer. Aliás, esta ideia da fusão já não é tão nova quanto isso.

Para ouvir sem preconceitos. Tradição com futuro. Enquanto ouvirem estas, não ouvem outras músicas.

Outras músicas

Aspirantes a músicos, acreditai! Qualquer um de vós pode vir a ser um cantor com muitos discos vendidos. Mesmo que não saibam cantar e as vossas letras e rimas estejam ao nível das produzidas por um aluno da 3ª classe.

Se um tal de FF consegue, qualquer um consegue!

Não foi ninguém que me disse. Fui eu que vi o seu execrável teledisco, ao nível do pior que se vê em karaoke, no TOP+, o que quer dizer que, não só consegue ter um disco editado como vende mais que outros, por certo bem melhores.

Um sinal mais para quem começava a desanimar. E um sinal menos, muito grande, para a nossa sanidade. Quero o livro de reclamações!

O livro de reclamações

O Português desde que aprendeu essa palavra, usa-a por tudo e por nada. Agora é moda “esgrimir” o pedido de livro de reclamações, ao jeito do “desafio-o para um duelo”.

De uma fase em que o português era conformado – até demais – e muito raramente reclamava, passou-se para a fase do deslumbramento. É este o tempo do novo-riquismo reclamador. Usa-se esse argumento como quem usa roupa de muitas marcas, todas elas bem visíveis e todas ao mesmo tempo. Figurinhas ridículas…

Ameaça-se com o pedido de livro de reclamações, mesmo que a suposta reclamação seja perfeitamente absurda. E não raras vezes, a par do livro de reclamações, vem a DECO a reboque – e não, não é a mulher do jogador – como par do livro.

Se uma marca decide que o mesmo modelo em materiais diferentes tem um custo diferente, a cliente que gostou do modelo, mas no material mais barato, exige o livro de reclamações. Faz barulho. Indigna-se. Revolta-se. É injusto e inconstitucional, vocifera. Só faltou dizer que vai recorrer até ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. E da mulher. Mesmo tendo o preço bem visível e marcado, especificando as diferenças de materiais. Mas ela não quer saber. Até vai chamar a DECO, vejam lá…

O nacional-parolismo no seu melhor. Perdeu-se a noção de respeito. Tudo serve para uma valente peixeirada. E logo com um povo que era tido por respeitador e até recatado.

Vou-vos confidenciar uma coisa, mesmo sabendo que estamos em plena época natalícia e que não o devia fazer. Mas a verdade é que tive vontade de lhe fazer o mesmo que me apetece fazer aos peões que se atiram para a passadeira, sem olhar sequer para ver se vem algum carro. E a vontade nesse caso não é travar…

No sapatinho quero:

Vou partilhar convosco uma prendinha que pedi ao Pai Natal. Uma prenda que não será só para mim, mas também para todos os vitorianos.

Por favor, Pai Natal, traz-nos uma Direcção. E já agora, se não for pedir muito, uma mesa da Assembleia-Geral, um Conselho Fiscal e um Conselho Vitoriano. Nem precisam de ser fora de série. Só precisam de o ser, coisa que estes não conseguiram. Obrigado.

Quero despedir-me da coluna desta semana com uns muito sinceros votos de um Santo e Feliz Natal para todos os leitores do Notícias de Guimarães e respectivas famílias.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

15 de Dezembro de 2006

O “tudo a eito”

Há determinadas profissões que devem ser imunes à crise… e à evolução.

Ter de fazer umas obras e encontrar profissionais eficientes é tarefa quase tão árdua quanto ver um jogo da II Liga com qualidade. Atenção que quando digo eficiente, não estou a ser picuinhas e nem exigente demais. Não, apenas peço alguém que consiga cumprir com aquilo que é contratado, conforme descrito, no prazo acordado. Nem precisa de ser de boa cara, que isso é pedir muito.

A dificuldade começa pelo orçamento… parece que nos vão fazer um favor do tamanho do mundo. Vão-nos conceder a honra de abdicarem de uns minutos do seu preciosíssimo tempo para, vejam lá o abuso da minha parte, “escrever aquilo que podia muito bem ser acertado ao fim”. O facto de eu querer saber de quanto é que vai ser o acerto não parece para aqui chamado. Nem interessa para nada.

Isto para não falar na sensação com que ficamos – ainda que sejam obras de vulto e muito bem pagas – de que nos estão a fazer um favor enorme. Pela postura parece que muitas chafaricas só ficariam contentes com a adjudicação de uma Ponte Vasco da Gama. Ainda que para orçamentar uma obra “modesta” demorem semanas, julgam-se estruturados para grandes voos. E mais que estruturados, injustiçados por não terem brevet. Se tivessem brevet, isso é que era. Ninguém os parava.

Há depois a lusa expressão do “trolhame” que mais me tira do sério. A frase da moda. O “tudo a eito”. O causador de todos os atrasos em Portugal. A mania de que se sabe programar. O terrível hábito de querer deixar tudo para a última hora, alegadamente por o trabalho só render se for feito “todo a eito”. Depois, com o prazo a aproximar-se, tem de se trabalhar noites e com o triplo dos funcionários que seria necessário se as obras fossem calendarizadas e os prazos respeitados. Mas não. Aqui não. É melhor ser tudo a eito… Mais caro, mais tarde, mas a eito.

Escusado será dizer que depois fica tudo “mais ou menos” pronto. Seja lá isso o que for. Mais ou menos pronto? O que é isso? Ou está pronto ou não está. É uma daquelas coisas em que não há meio-termo.

Tudo isto, segundo alguém com conhecimento de causa, tem tendência a piorar. Parece que agora os melhores profissionais estão a optar por trabalhar em Espanha, onde se ganha mais pelo mesmo serviço. Quem já viajou de madrugada, por exemplo, na A3 em direcção à Galiza, sabe que o que digo é verdade. São dezenas de ligeiros de passageiros cheiinhos. Ainda ontem, infelizmente, umas dessas viaturas sofreu um acidente e um trabalhador português foi cuspido e faleceu, sendo esse apenas mais um dos acidentes que têm vindo a acontecer com cada vez mais regularidade, o que é de lamentar. Mas voltando ao tema do texto, quer isto dizer que vamos ficar com os piores do pior. Se hoje em dia já é o que é arranjar um bom trolha, pintor, carpinteiro, serralheiro, picheleiro ou similar, temo pelo futuro. Resta-me desejar boa sorte na procura das agulhas no palheiro.

Acreditar

O Vitória cedeu o seu principal espaço publicitário – a frente das camisolas do equipamento oficial – a uma associação de apoio a crianças com cancro. E ainda uma parte da venda dos equipamentos. O que, para além do motivo óbvio e indiscutível, é bom, porque é sinal de que vêm equipamentos ainda esta época.

Causa nobre e nobre gesto do Vitória ao apoia-la, mostrando que é uma verdadeira instituição de utilidade pública. Generosidade inquestionável.

Não fico, no entanto, inebriado o suficiente e nem com enternecido com esta, volto a dizê-lo, nobre acção de marketing demonstradora de uma enorme responsabilidade social que me tolha o raciocínio a ponto de deixar de questionar se esta não foi uma saída airosa para a incapacidade de vender a marca Vitória e a sua principal montra. Ainda que, como tem vindo a ser advogado, tenham existido propostas concretas para a sponsorização do Vitória a nível das camisolas – e tudo o que o pack sponsor oficial inclui, logicamente – e as mesmas não tenham atingido os valores tidos por aceitáveis para esse efeito, não seria interessante juntar uma série de pequenos sponsors que, sozinhos não conseguiam pagar o que o Vitória vale, mas se associassem ao “mecenas” Vitória e suportassem indirectamente a inserção do logo ACREDITAR?

Isso sim, a meu ver seria interessante. O Vitória ajudaria uma causa nobre e a Direcção demonstrava capacidade para encontrar soluções para fazer face às necessidades de tesouraria. É que assim começa a ser cada vez menor a margem para depois vir desculpar-se com buracos e ao mesmo tempo fazer peditórios para autocarros. Parece-me de uma incongruência atroz.

Se me perguntarem se acho que o Vitória deve ser altruísta, respondo imediatamente que sim.

Se me perguntarem se acho que o Vitória tem vindo a ser altruísta e atento a causas sociais, digo com agrado que ocasionalmente sim.

Se me perguntarem se acho que “dar” o nosso mais nobre espaço publicitário (e que num período de quebras de receita poderia representar uma fatia importante do orçamento do clube) me parece uma decisão correcta a nível da gestão, respondo claramente que, em não havendo mecenas que a comparticipem, me parece uma fuga para a frente, uma manobra de diversão, uma saída airosa para um problema que não foi resolvido.

Mas como não me perguntaram nada… digo apenas que o coração diz que acredita e a razão cada vez menos.

Estudante e pouco trabalhador

Ontem ouvi na TSF umas declarações do ministro Mariano Gago a propósito de uma série de medidas, por ele defendidas, tendentes a regulamentar e incentivar a ocupação parcial dos estudantes do ensino superior. Dizia o ministro que Portugal deve ser dos únicos países onde se tem como dado adquirido que o estudante do ensino superior o tem de ser em exclusivo. Dava o exemplo de uma série de países, bastante mais ricos que nós, onde era perfeitamente normal os estudantes terem uma ocupação temporária, que os ajude a custear as suas despesas.

Parece-lhe mal, caro leitor? A mim não. Muito pelo contrário. Acho inclusive – e esta note-se não é uma teoria com qualquer base científica, mas apenas baseada na minha opinião pessoal – que muitos problemas de insucesso no ensino superior advêm precisamente do facto de os estudantes o serem em exclusivo. Têm tempo livre a mais. E mais ainda quando muitos deles saem pela primeira vez da casa dos pais, aquando do ingresso no ensino superior, a falta de regras dá mau resultado.

E o presidente da AAC, supostamente em resposta ao ministro – digo supostamente porque me deu a sensação que respondeu a alhos com bugalhos – vem responder que o ministro devia era averiguar o porquê de 40% dos alunos que entra no ensino superior não concluir o curso e que o ministro devia era investir nas instalações. Porque – dizia ele – se sem ocupação parcial, os níveis de insucesso estão como estão, se os pobres estudantes ainda tivessem de trabalhar, como seria…

Au contraire, digo eu. Muitos dos que abandonam precocemente a universidade fazem-no porque provavelmente não fazem ideia do esforço que os pais têm de fazer para que eles possam prosseguir os seus estudos a esse nível.

Se lhes saísse um pouco mais do corpo, já perceberiam o que a vida custa e o empenho seria com certeza maior. As desnorteadas declarações do presidente da Associação Académica de Coimbra só levam a que a vox populi depois seja do género: Não sobrava era tanto tempo para copos e tainadas…

domingo, dezembro 10, 2006

7 de Dezembro de 2006

Guiness Book of what ????

O português tem um fascínio incrível pelo livro dos recordes. Ele é com cada feito candidato a figurar entre os registos, que me deixa de boca aberta. Não os contabilizo, como é lógico, mas deve haver uma média superior a um por semana.

Esta semana foi o autor do maior Pai Natal marioneta do Mundo que teve direito aos seus minutinhos de fama. As televisões apressaram-se a dar cobertura ao grande feito. O Pai Natal marioneta feito pelo senhor era o maior do Mundo? Pudera! Quem mais no seu perfeito juízo se lembraria de semelhante? É normal que seja o maior. Provavelmente até é o único. E sendo o único deve ser o maior.

Mais engraçado ainda é ver o ar sério com que os candidatos terminam as declarações acerca dessas tentativas, dizendo que agora esperam que o seu recorde seja “ratificado”. Imagino a cara de enfado do “fiscal dos recordes” – que na hierarquia dos fiscais deve estar equiparado ao fiscal dos parquímetros – a quem cabe decidir pela validação do feito. Então o que for destacado para Portugal…

De feijoadas na ponte Vasco da Gama, ao maior pão de milho, passando pelo “muito nosso” bombo, às iluminações de Natal de Não Sei Onde de Baixo, sem esquecer a lavagem dos pratos da feijoada com um ínfima quantidade de detergente, há de tudo, como na farmácia. Começa a faltar é paciência…

Para além de que é no mínimo estranho esse fascínio pelo grande. O maior. Temos de ser o maior. Errado! Temos é de almejar a ser melhor!

Estou velhote… vim para isto

Muitas vezes dirigem-se-me pessoas, perguntando se as coisas que aqui relato são mesmo verdadeiras. Se aconteceram mesmo, questionam-me. Eu admito que às vezes até parece que não, mas é verdade. Acontecem tanto quanto aconteceu esta que agora vos conto.

Na semana passada optei por fazer um trajecto de táxi. Vinha de Lisboa – de Alfa, como sempre que me é possível – e tendo deixado o carro em Ovar, optei por não incomodar ninguém que me viesse propositadamente buscar e apanhei um carro de praça frente à estação de Espinho.

Saiu-me um dos faladores. Que tinha toda a vida trabalhado nos químicos. Nas tintas, sabe – interpela-me ele – acrescentando que depois os espanhóis compraram aquilo e o mandaram embora. Mas também já estava velhote. Entretanto estive no fundo de desemprego o tempo que pude. Mas agora já começo a ver malzinho. Prontos… reformei-me e vim para os táxis.

Diga-se de passagem que chovia que Deus a dava e as escovas do limpa pára-brisas nem uma brisa limpariam. Circulávamos em plena EN 109 de noite.

Não sei porquê não me senti seguro.

A democracia da bola ao poste

Esta foi uma semana complicada para os lados da Unidade. Levámos cinco do Rio Ave, logo é semana de contestação. E se tivéssemos ganho em Vila do Conde? Seria o mesmo ou teríamos voto de confiança?

Na Assembleia-Geral da moção de confiança disse que temia muito. Minto. Não disse nada disso. Não disse que temia. Disse mesmo que tinha medo. Que tinha muito medo pelo futuro do meu clube. Que tinha medo de que o “projecto ainda fosse a meio”.

Os acontecimentos desta época levam-me a pensar que afinal tinha razão. E como eu gostava de neste particular dar o braço a torcer. Mas não posso. Agora até o Norton de Matos vem dizer – depois de levarmos cinco – que tínhamos feito o melhor jogo da época. Devo estar louco…

Começa a ser altura de pensar, muito seriamente, em preparar o futuro.

São tantas as provas de inabilidade desta direcção, que todas as páginas deste jornal juntas não chegariam para as enumerar.

Atentemos só na parte da quebra de receitas, já que contas parecem ser um tema dos preferidos pelos defensores – ainda os há? - desta gestão. Numa época desastrosa a nível de receitas – esquecendo a parte da bola ao poste ou nas redes – o encaixe da venda de camisolas oficiais não ajudaria? Já se perdeu o Agosto dos emigrantes, o início de época dos crentes e agora o Natal dos consumidores. E ainda a rábula vai a meio.

E que dizer do número ínfimo de placas de publicidade vendidas no estádio e do panorama desolador da tribuna presidencial e camarotes, resultado da venda reduzidíssima dos mesmos?

Então se a isso juntarmos a ausência de patrocinador nas camisolas, o ramalhete fica realmente composto.

Lá se vai o mito de bom gestor…

segunda-feira, dezembro 04, 2006

30 de Novembro de 2006

O Pinheiro

Escrevo esta coluna no dia anterior ao Pinheiro, sabendo no entanto que a vão ler no dia a seguir. Sei que corro um sério risco de não me entenderem bem. Muitos dos que me lêem deitam-se tarde nessa noite. Ainda assim, cá cai.

Estranho calendário este que vigora cá no burgo, por finais de Novembro. O AP e o DP. Quem aterrar em Guimarães por estes dias perceberá pouco do que afinal rege as disponibilidades nestes dias que antecedem Dezembro. Os compromissos são marcados em função do Pinheiro. Quinta-feira de manhã muito pouco, ou nada, se poderá fazer sendo que a partir de meio da tarde de quarta ainda menos.

É algo muito nosso. Muito vimaranense. Nós percebemos isto. É algo que, mesmo a contra gosto de saudosistas dos tempos em que o Pinheiro era exclusivamente participado por antigos alunos do Liceu a noite dos Velhos Nicolinos – e eu até me enquadro nesse grupo, diga-se de passagem – neste momento já é uma festa da cidade. Foi aglutinada pela cidade. Há uma simbiose entre a cidade e as festas. Neste momento é incontrolável. Mulheres, futricas, alunos da Escola e das escolas, tricórnios, juntamente com Velhos Nicolinos num rufar simultâneo de dezenas de milhar de caixas e bombos.

Fazendo um pouco de futurologia, sei que hoje muitas conversas girarão em torno do “no meu tempo é que era”. Pois… mas esse tempo já lá vai. Por muito que nos possa custar. E o tempo não volta para trás…

Ou volta um bocadinho?

Reabriu em Guimarães uma casa que nunca devia ter fechado.

Falo de um snack-bar na Alameda, que – para eu não digam que eu estou a fazer publicidade – tem um nome de uma dança típica dos ranchos folclóricos do Minho, que começa com a letra V, acaba em A e suas das suas quatro letras são, por esta ordem IR. Depois também se chama Bar.

Senti-me a recuar uns anos no tempo. Não que o espaço esteja igual ao que era. De maneira nenhuma. Igual só mesmo aquele painel ao lado esquerdo de quem entra e a disposição do balcão e das “salas”. Acho até que a sobriedade do espaço, juntamente com o toque urbano da luz q.b., aliado aos sofás retro e à localização lhe dão uma sofisticação que fazia falta a Guimarães.

Este último parágrafo é muito bonito… mas o que conta mesmo é que eu gostei. Pode haver quem não goste e até discorde em toda a linha daquilo que acabei de escrever. Estética e gostos pessoais não se discutem.

O que, digo eu, não tem discussão é que o conjunto está muito bem conseguido. E a cozinha está ao nível que se esperava. Embalada pela novidade a clientela tem aderido em massa. Esperemos que a casa faça por merecer a atenção que tem merecido.

Eu aprecio a “cultura do snack-bar”. Gosto do Vira-bar, como gosto da Cervejaria Martins e como quase cheguei a gostar do “La Coupolle”. E esta casa fazia falta a Guimarães.

Mas o que aprecio mesmo e isso foi o que me fez sentir ter viajado no tempo, foram os ovos verdes, a saber mesmo ao mesmo que sabiam antigamente.

Por falar em antigamente…

Onde morava este povo todo?

Ao ver a selva de pedra em que a maioria das cidades portuguesas se está a transformar, tenho obrigatoriamente de pedir a vossa ajuda. Ajudem-me a decifrar este enigma… Onde morava toda esta gente?

Sempre ouvi dizer que Portugal tem aproximadamente 10 milhões de habitantes. Se a população não aumentou nestes últimos – pelo menos – vinte anos, de onde vieram as pessoas que habitam os largos milhares de novos fogos que se construíram entretanto?

Mistério… Um mistério quase tão grande quanto o do porquê de haver uma faixa exclusiva a “BUS” na Av. Conde de Margaride. Não. Para esse mistério já nem procuro explicação. Desisti. Desisti já há algum tempo de tentar perceber o que nem o Grissom do CSI entenderia. A faixa de Bus, o triângulo das Bermudas e o porquê de jogar com dopis trincos de características hiper defensivas - o Flávio Meireles e o Otacílio - contra o Trofense, em nossa casa.

Há certas coisas que me transcendem.

Lifting

Uma amiga minha, designer, achou por bem agraciar-me com uma prendinha de Natal antecipada, que eu hoje partilho convosco. A Carla Macedo, fez-me um lifting. Ou melhor, a mim não, ao meu cabeçalho. Ou não… Ao meu cabeçalho, salvo seja. Ao cabeçalho desta coluna.

Quis dar-lhe um ar mais consentâneo com o que a coluna contém, presumo. Eu gosto, aliás como de quase todos os seus trabalhos. Como a ilusão visual criada pelas colunas a “rasgar-me” a face, é a de que me encontro atrás das barras, quero que a coincidência não passe disso.

Agora mais a sério, espero sinceramente que seja do vosso agrado e aqui fica desde já o meu agradecimento.

sábado, novembro 25, 2006

24 de Novembro de 2006

Outra vez?

Sempre que estreia um filme novo do James Bond, o ritual repete-se. Durante semanas a fio lá vêm injecções televisivas massivas de filmes do 007, sejam eles com o carismático Sean Connery, o extrovertido Roger Moore, o sorumbático Timothy Dalton ou o irreverente Pierce Brosnan.

Admito que gosto dos filmes do agente secreto ao serviço de Sua Majestade criado por Ian Flemming e que é, por certo, o mais famoso agente secreto, a par do Detective Mário Costa. Aprecio sobremaneira a sua elegância única e a destreza que lhe permite cair sobe um lamaçal e sair com o fato impecavelmente limpo. E quem não se imaginou já ao volante de um Aston Martin, dele fazendo “gato-sapato”? Eu, como apreciador confesso de carros ingleses, não o escondo. Eu já me imaginei.

Gosto ainda das Bond Girls, gosto do ambiente de glamour dos casinos, da calma com que se esbofeteiam vilões, do estilo com que se aniquila o mal, gosto do enredo de uma história em que a classe vence o piroso.

Em suma, gosto de ver filmes do James Bond. Mas nem tanto assim. Assim até cansa. O que é de mais é erro…

Devia servir-se estes filmes do mesmo modo que com o Vodka Martini, shaken but not stirred, com moderação.

Prédios com lojas em baixo, para quê?

Se há tendência que, por muito que se faça, será praticamente impossível contrariar, é a da concentração da compra em grandes superfícies, centros comerciais e parques de retalho.

Já assim o foi pela Europa fora – salvo raras e honrosas excepções de algumas ruas – e cá, como lá, cada vez mais acontecerá o mesmo.

É um facto. Toda a gente sabe que é um facto. O comércio, mesmo o de ruas do centro das cidades, pena. As associações de comerciantes bem tentam, com campanhas mais ou menos eficientes, evitar o inevitável.

E mesmo assim, continuam-se a construir “galerias” comerciais por baixo de tudo quanto é prédio e casa. Prédio esse que pode estar em Castelões, ou em Leitões. De Rendufe a Polvoreira. Para quê? E para quem? Que todos os prédios têm – vá-se lá saber porquê – no mínimo, um café, já nós sabemos. Para que servem as outras lojas da “galeria” é que ninguém me explica.

Basta dar uma volta pelo concelho para constatar que cerca de metade dessas lojas, se não “morreram”, estão em coma. Mas insistem. Batem na mesma tecla.

Os miserabilistas e acomodados

Temos de nos mentalizar que estamos na II Liga… é a frase do momento. Não podemos brincar com os nomes dos adversários, dizem.

Tudo bem que temos de nos mentalizar para a triste realidade: Puseram o Vitória está na II Liga. Mas temos também, por isso, de nos habituar a vê-lo como não favorito nessa divisão? Temos de nos acomodar ao miserabilismo vigente? Não será por nos termos já mentalizado em demasia, de que a nossa realidade é esta, que trememos antes de jogar com qualquer portento do futebol mundial, tipo Estoril?

A verdade é só uma. Esta equipa não foi preparada convenientemente para a subida de divisão.

O que o Vitória está a passar é uma vergonha. O que nos vale é que, sob a capa de ser competitiva, a II Liga é ainda uma vergonha maior. Se esta época não estivesse a ser tão terrivelmente fraca, nem quero imaginar…

O Vitória tinha obrigação de ter uma equipa à altura dos seus pergaminhos. Os adversários de II Liga deviam “tremer” só de pensar em jogar contra nós. Mas não. Antes pelo contrário.

Tudo o resto que se diga, ou escreva, é folclore.

Ou vai ou racha

Foi inaugurado na passada quinta-feira o Ferrara Plaza, um centro comercial, em Paços de Ferreira, que faz corar de vergonha o “nosso” chópingue. Mas não é o tamanho que interessa.

O que me saltou à vista foi o investimento de empresas vimaranenses. Motivo de orgulho. Dos têxteis-lar, ao vestuário e calçado, são vários os operadores de Guimarães presentes nesse centro comercial.

Está-me a parecer que Guimarães, após uns anitos de marasmo e que tão mal nos fizeram, Guimarães está a voltar a ser empreendedora. Quiçá uma segunda geração esteja já a preparar-se para voltar a pôr Guimarães no mapa empresarial de Portugal.

Parece-me também que o tempo é disso mesmo. Ou Guimarães volta a ser o que foi, ou estoura. E depois seremos Património da Humanidade e Capital da Cultura. E só isso.

segunda-feira, novembro 20, 2006

17 de Novembro de 2006

Ajudem-me a fazer esta conta, que eu não chego lá…

Segunda-feira lia nos rodapés multicoloridos dos telejornais, aquela salgalhada cromática e agressiva à vista, que nos distrai da notícia e nos chama a atenção para tudo menos o pivot ou a peça, que devido ao tempo – calor a mais para a altura do ano – as vendas tinham caído 50%. Mais uma vez? Mais 50%?

Ora aqui está um dos mais misteriosos mistérios (passe a redundância) deste nosso Portugal. Neste Novembro caíram 50%. No Verão já tinham caído 40 e tal por causa de qualquer coisa. E no ano passado, por causa do frio, ou do calor, ou dos chineses, ou dos espanhóis, ou dos passarinhos que não cantaram suficientemente afinados, houve das maiores quebras de que há memória: foi terrível quase 60%...

Quebrou em relação a quê? Ao mesmo período do ano anterior? Ou relativamente àquilo que o comerciante queria vender, ou achava que ia vender?

Alguém acredita que multiplicando todas estas percentagens pelas quais temos vindo a dividir para encontrar as quebras, chegamos ao valor real daquilo que já se vendeu? Eu não. Soa-me a que nem as quebras são e nem as vendas foram tão grandes quanto o peixe que nos “vendem”. Se é a televisão, sem nada melhor, que recorrentemente induz os comerciantes a dizer as mesmas coisas nos mesmos períodos do ano ou se é mesmo “choradinho” patológico, não sei.

Independentemente da resposta à anterior dúvida existencial, o que sei é que já satura. Pode até ser verdade, mas já ninguém acredita. Desde que me lembro de ser gente, que as vendas quebram sempre em valores perto da metade. Duas vezes por ano, pelo menos.

Afinal quanto vendiam os comerciantes há uns anos atrás? Quantas dezenas de milhar por cento vendiam a mais do que vendem hoje?

Quanto a esta pergunta, não me parece que alguém me consiga “resolver este problema”. Não é conta fácil…


Os figurantes das low cost

Por motivos profissionais, cada vez mais me dava imenso jeito que houvesse uma ponte aérea Porto – Madrid. Mas não há.

Saindo do Porto, o voo da manhã chega a Madrid quase de tarde, o que para quem precisa de trabalhar e não pode ir de véspera (e por isso opta pelo avião) inviabiliza a nacionalista pretensão de “voar nacional”. Resta-me a solução Vigo. Uma horita de carro para chegar a um aeroporto que me faz lembrar o de Pedras Rubras há uns anos (quando éramos um país pobre e menos desenvolvido que Espanha e não podíamos ter aerogares de luxo) e apanho o avião das 7:00 da manhã. Uma horita depois estou em Madrid, mais que a tempo de a meio da tarde estar de regresso, depois das reuniões que me levaram à capital espanhola.

Do aeroporto de Vigo à mesma hora saem dois voos para Madrid, um é da Ibéria, o outro duma low cost. Escusado será dizer que eu fui no da Ibéria. Este “escusado será dizer”, dito assim até pode parecer que é por opção, ou porque faço mesmo questão de não voar em low costs. Nada mais falso. Principalmente numa viagem de uma hora, trocava de bom grado o meu bilhete – que custou para cima de um dinheirão – por um na “Air Europa”. Oh se trocava…

O problema é que quando preciso, nunca tenho lugar em companhia nenhuma de preços baixos. Está sempre tudo cheio e só três meses depois da minha necessidade de locomoção é que teria “vaga”.

Começo a achar que isso nem existe, as low cost são um mito urbano. As pessoas que vejo a passar por mim, sorridentes, com bilhete da Air Europa na mão, felizes por irem para a mesmo sitio e da mesma forma que eu, com a pequena diferença de o meu bilhete dar para pagar cerca de 20 dos deles, são figurantes contratados para gozarem com os que não podem planear viagens com três meses de antecedência…


Um bocadinho de preconceito puro e duro

Os espanhóis são o melhor povo do mundo a falar castelhano. E deviam quedar-se por aí. Poupavam-nos o decadente espectáculo de ouvir as hospedeiras e comandantes dos voos a tentar falar espanglês. “Leidiz and gentelmén, diz iz iór captéin éspiquingue.”

Se calhar, reconsidero. Que continuem a tentar. Assim até arranjei assunto para este curto texto.


A terra dos cinzentões

Já estava a tardar. Nesta terrinha, tudo o que saia da “medida standard” já é olhado de soslaio. Na terra dos grupos com poiso certo, das rotinas, dos compadrios, onde ninguém tem sucesso por mérito próprio – deve-se sempre ou a cunhas, ou à família, ou a negócios ilícitos – não era de estranhar que o estilo desempoeirado que adopto para a escrita desta coluna de opinião começasse a incomodar o status quo.

Aparentemente não foi só a mim que me caiu mal aquela história das letras a anunciar o pequeno-almoço no Estádio. A mim caiu-me mal ler, mas houve a quem caísse mal o eu ter lido e brincado com a situação. Azar. Não há vacas sagradas e o Vitória – e atenção que ninguém é mais vitoriano que eu – é e será merecedor de reparos meus, em relação àquilo que estiver bem, mas também (como soe dizer-se e está em voga) antes pelo contrário. Do Vitória, de Guimarães, do País, da Portugalidade, de amigos, de coisas que, no fundo têm apenas um denominador comum. Mexem comigo.

E tanto digo mal, como digo bem. Conforme me ditar a consciência. A minha, não a “comum”. O estilo jocoso, brincalhão, desempoeirado, leve, desabrido (aplicar ou adicionar a gosto aquilo que mais convier) é o meu. Com graçolas que podem nem ter graça nenhuma. Tiradas mais ou menos felizes. Deixo a seriedade para quem quer e para quem não sabe ser de outra forma. E não critico ninguém por levar as coisas demasiadamente a sério. Assim como quero que entendam que esta é a minha forma. Este é o meu estilo. Quem gosta lê, quem não gosta, passa à frente. Obrigado.


Caro João Almeida

Li com satisfação e agrado o seu texto da passada semana. Agrado redobrado pois vi que o dedicou em exclusivo à resposta à minha “simplória" provocação. Não sou merecedor de tanto. Não me leve tão a sério e nem veja o meu reparo como político, abstendo-me eu, por isso e não por falta de argumentos, de responder à parte ideológica e de mambo jambo de cartilha, até porque deixei o leitor de cassetes em casa. Sou um mero curioso, um eleitor com filiação num partido, mero militante de base, ainda que cada vez mais afastado da vida política, muito devido ao pragmatismo a que a minha profissão obriga e que me leva a ter cada vez mais dificuldade em entender essa vossa política.

Mas aprecio a coerência. Respondeu-me com um poema de um autor que, sou sincero, desconhecia e por tal conhecimento me ter proporcionado agradeço-lhe. Mas não resisto a mais uma pequena provocação (o que seria do quotidiano sem estas pequenas coisas que lhe dão o sal e a pimenta?): Achei interessante o modo que encontrou para me responder. Bonito poema. E curiosamente tem exactamente o mesmo efeito prático que teria tido o tal texto do grupo parlamentar da CDU na AM, se o mesmo tivesse sido aprovado.

sexta-feira, novembro 10, 2006

10 de Novembro de 2006

A faixa da direita não é só para os camiões.

Cada vez mais acho que as auto-estradas de 3 faixas são dos piores investimentos que se pode fazer em Portugal, enquanto não se fizer uma campanha massiva de informação.

Urge sensibilizar os condutores para o facto de que não é desprimor nenhum para ninguém conduzir na faixa da direita, havendo 3 faixas de rodagem. Não desprestigia e deve até ser usada. Ninguém vai pensar que o seu carro é um camião, não se preocupe. Não, o seu carro não amua por isso.

Pense comigo: Se assim não fosse, para que se gastaria milhões de euros a construir uma faixa, para além daquelas que é normal uma via como aquela ter? No limite, se fizerem mesmo muita questão de irem a “vegetar” na faixa do meio, pelo menos usem o retrovisor, para que se possam chegar ligeiramente para o lado, no caso de virem duas viaturas atrás…

Amnistia

Este era o termo que vulgarmente se usava para designar o perdão de multas decretado pelo Presidente da República, normalmente por altura da visita de alguém importante – lembro-me de repente da visita do saudoso Papa João Paulo II – e que tanta gente fez feliz no passado.

Ora, eu desde que tirei carta de condução e já lá vão uns anos, de tal nunca beneficiei. Acabou. Não voltou a acontecer. Será algo pessoal? Algo contra mim? Foi algo que eu fiz? Ou que não fiz? Ou a crise é tal que o Estado não pode prescindir de tais receitas sob pena de por em causa o “equilíbrio” das contas públicas.

Todas as multinhas que me passaram, que remédio tive senão pagar… Algumas delas, sempre esperando pelo tal “perdão” que não chegava, até foram apimentadas com juros de mora e tudo.

Dou por mim a pensar que mais me valia ter sido bombista, do que ter sido “apanhado” a falar ao telemóvel enquanto conduzia. É que puxando pela cabeça, desde que tirei carta a única amnistia de que me lembro, foi a do nosso ex-presidente, esse grande democrata, Mário Soares às FP-25.

Pobre de mim, que só sou um bocadito acelera…

Estranho sentido de posse

Dou por mim, recorrentemente, a imaginar a seguinte cena numa assembleia municipal, por exemplo, de um qualquer concelho recente, como por exemplo, totalmente ao acaso e aleatoriamente sorteado, a Trofa.

Do burlesco cenário constam uns deputados municipais indignados, populares revoltados e gritos, muitos gritos. E berros também. Todos acham um escândalo. Todos sem excepção. Todos estão de acordo, mesmo aqueles que politicamente estão nos antípodas. Uma injustiça, dizem.

Não percebo – no meu pensamento – muito bem de que falam, até que alguém diz ser imperioso exigir à concessionária das auto-estradas que mude o nome da área de serviço. Santo Tirso, nunca. Trofa já. Ontem era tarde. Faça-se!

Uns tempos depois, imagino o mesmo cenário, mas agora numa assembleia de freguesia. Exige-se a inclusão de Coronado, a par de Trofa na sinalética indicativa da tal área, pois a não existir o nome da freguesia seria um acto de centralismo inaceitável e tendencialmente opressor da freguesia.

Não sei se tal assim, de facto, se passou. Foi a minha fértil imaginação – quem passa muito tempo ao volante sabe do que falo – a dar de si. Mas não deve ter andado longe disso. Só assim se compreende que a área de serviço que foi de Santo Tirso, agora seja de Coronado / Trofa e a antiga área da Mealhada, tenha sido renomeada para Mealhada / Cantanhede.

Parece-me que estes preciosismos têm tanta pertinência quanto a parangona que faz a C. M. de Paços de Ferreira, numa das entradas da cidade, num arco enorme que paira sobre a estrada e que reza assim: Bem-vindos a Paços de Ferreira, o 8º Concelho mais Jovem do País. Que raio de argumento é esse? Isso é lá coisa para se fazer publicidade?

A manter-se a tendência, não tarde ver-se-á em outdoors publicitários, pagos por todos, nós frases como: O 3º concelho com mais comércio de Trás-os-Montes; Região Oeste: Temos quase tantos moinhos como a Holanda ou É bom viver em Braga.

Lembram-se de cada uma…

Porque será?

O Joaquim, depois de dormir numa almofada de algodão (MADE IN EGIPT), começou o dia bem cedo, acordado pelo despertador (MADE IN JAPAN) às 6 da manhã.

Depois de um banho com sabonete (MADE IN FRANCE) e enquanto o café (IMPORTADO DA COLÔMBIA) estava a fazer na máquina (MADE IN CHECH REPUBLIC), barbeou-se com a máquina eléctrica (MADE IN CHINA).

Vestiu uma camisa (MADE IN SRI LANKA), jeans de marca (MADE IN SINGAPORE) e um relógio de bolso (MADE IN SWISS). Depois de preparar as torradas de trigo (PRODUCED IN USA) na sua torradeira (MADE IN GERMANY) e enquanto tomava o café numa chávena (MADE IN SPAIN), pegou na máquina de calcular (MADE IN KOREA) para ver quanto é que poderia gastar nesse dia e consultou a Internet no seu computador (MADE IN THAILAND) para ver as previsões meteorológicas.

Depois de acertar o relógio (MADE IN TAIWAN) pelo rádio (MADE IN INDIA), ainda bebeu um sumo de laranja (PRODUCED IN ISRAEL), entrou no carro (MADE IN SWEDEN) e continuou à procura de emprego. Ao fim de mais um dia frustrante, com muitos contactos feitos através do seu telemóvel (MADE IN FINLAND) e após comer uma pizza (MADE IN ITALY), o Joaquim decidiu relaxar por uns instantes. Calçou as suas sandálias (MADE IN BRASIL), sentou-se num sofá (MADE IN DENMARK), serviu-se de um copo de vinho (MADE IN CHILE), ligou a TV (MADE IN INDONESIA) e pôs-se a pensar porque é que não conseguia encontrar um emprego em condições em PORTUGAL.

O texto acima não é de minha autoria. Tentei encontrar a versão original, de modo a que pudesse dar o crédito a quem escreveu este pedaço de prosa, que eu pessoalmente acho muito interessante. Não consegui. Já são tantos os blogs e sites que contêm este texto sem citar o seu autor que, lamentavelmente, lhe “perdi o rasto”. Fica no entanto um texto que não me importava nada de ter escrito.

sexta-feira, novembro 03, 2006

03 de Novembro de 2006

Caso de polícia

Há umas semanas atrás, senti necessidade de vir a terreiro dizer de minha justiça, em relação à actuação – na minha modesta opinião, mais que justificada – de agentes da autoridade, no decurso de perseguições a criminosos, que se viram forçados a recorrer ao uso da arma para que parasse a louca perseguição automóvel. Questionava o que mais faltaria para que se justificasse o uso da arma.

Esta semana, a fazer fé em relatos de vitorianos que me merecem toda a credibilidade, tenho de dizer alto e bom som que a actuação da polícia no jogo do Estádio do Mar foi uma vergonha! Já nem falo da (des) organização do jogo, ao nível da agremiação de bairro que o Leixões nunca deixará de ser. Falo mesmo da inabilidade – prefiro pensar que foi disso que se tratou – das forças de autoridade em assegurar uma saída daquele “quelho” em segurança, aos adeptos do Vitória, adeptos esses que pagaram um balúrdio (com aquelas condições, de borla era caro). Senão vejamos:

Depois de durante o jogo terem sido alvo do arremesso de garrafas de vidro, pedras, caixotes do lixo (!?!?!), no final, para além de cobardes agressões em bando (ou matilha), a vimaranenses em menor número, a emboscada premeditada no IC1 – troço entre Matosinhos e a rotunda AEP - e a estupidez de mandar os autocarros da claque voltarem pelo mesmo caminho até à entrada da A7, trajecto durante o qual foram alvo fácil – aquilo a que os ingleses chamariam sitting ducks – de leixonenses e boavisteiros (sim, também os havia) que apedrejaram os autocarros da claque, bem como viaturas particulares de famílias vitorianas.

É como mandar alguém para a toca do lobo. Isto cabe na cabeça de alguém? Na minha não. E na de quem é pago para zelar pela segurança dos cidadãos também não devia caber.

O que realmente me enerva é que cá em Guimarães, se jogamos contra o Carcavelinhos, que toda a gente sabe, devido ao historial de violência nos jogos entre os nossos clubes é um jogo de altíssimo risco, as ruas cá do burgo, mormente naquele triângulo das Bermudas à volta do Estádio, qual cenário de Mad Max enchem-se de robocops, prontinhos a correr à bastonada, de preferência vimaranenses.

Dá vontade de perguntar se uns são filhos e nós enteados.

Não que eu ache mal proporcionar segurança a quem quer ver futebol em paz. Claro que não. Mas que seja assim em todo o lado. Ou há moralidade, ou comem todos. Não podemos “comer” só nós…

O estádio, Mar adentro, por favor.

Esquisito… Nunca dei pela existência de qualquer rivalidade com o Leixões. Juro que não. E não me parece que a atenção que dispenso ao Vitória seja pouca e por isso me tenha passado ao lado essa “coisa”. Mas agora parece que é moda…

A comunicação social desportiva nacional, na ânsia de notícias, passou a última semana a reavivar memórias de há 18 anos… Como se o Leixões alguma vez tivesse sido nosso par. Não é nosso par quem quer! E não é (ou pelo menos não era) nosso rival quem anda a agoniar pelos escalões secundários há quase duas décadas. Isto não é para quem quer.

Essa mesma imprensa, tão afoita em aprofundar essa matéria esqueceu-se do dever de informar correcta e convenientemente os leitores, no que toca aos incidentes durante e pós-jogo. Alapado na bela da secretária, houve quem atribuísse a culpa dos incidentes, vejam lá, aos vitorianos que a Matosinhos se deslocaram. Por insultarem os leixonenses, pasme-se. Por essa ordem de razões, em todos os estádios do mundo, semanalmente haveria mortos e feridos… As hostilidades tinham sido abertas pelos insultos dos vitorianos. Antes disso, porém, já os adeptos vimaranenses tinham tentado deitar abaixo a rede que dividia as bancadas e já tinham também cumprido o ritual tão deles que é arrancar as cadeiras para as lançar para o campo.

Vergonha. Tenham vergonha. Para essa cobertura jornalística, prefiro não ter nenhuma. Estas citações em itálico são do texto de Sérgio Pereira do maisfutebol.

Muito do que se passou fora de campo deveu-se ao empolamento e invenção de uma rivalidade que nunca existiu, por parte de jornaleiros como este.

Aliás, ainda me lembro, já lá vão alguns anos, de um amigável na pré-época, disputado no Estádio do Mar. Na altura nada se passou e fomos muito bem recebidos. Hoje, depois do passado domingo, quero mais é que o estádio vá …. mar adentro. Mesmo sabendo que o Leixões tem gente boa. Mas afinal de contas, quando a nós se referem, normalmente também é como vândalos, violentos, arruaceiros e outros epítetos que tais. Assim, de que vale ter a fama – e dela não nos livramos, ainda que pareçamos nos últimos tempos “domesticados” – se não pudermos dizer e fazer umas alarvidades como esta, deste título… Eu até sou do clube que tem por ritual muito nosso de arrancar cadeiras e lança-las para o campo… Por isso, posso.

Algumas dúvidas sobre a Assembleia-Geral

- Quantas são afinal as vezes que é necessário recontar uma votação? Depende se é favorável ou não ao que a mesa quer que a contagem “dê”?

- A Direcção não responde às dúvidas colocadas pelos associados quando o deve fazer. Deve o Presidente da Direcção usar da palavra entre recontagens? O que diria então, que não pudesse ter dito aquando do período normal para esse efeito?

- Por falar em dúvidas. Se aumenta o número de sócios e se fazem parangonas acerca disso, não é legítimo esperar que as receitas de quotizações aumentem?

- O argumento de que as contas foram chumbadas por quem nem sequer as viu não me parece muito convincente. Se tivessem sido aprovadas, essa questão também seria levantada?

- Tenho ouvido que a não aprovação do relatório e contas foi uma “moção de censura” à Direcção. Se tivesse sido aprovado, teria eu ouvido falar em moção de confiança?

- Afinal o Sr. Presidente já não acha que é sua obrigação devolver o clube ao escalão de onde o tirou, basta que assumam os seus avais para que abdique desse sonho? E se não conseguir que o façam, conta perpetuar-se, desinvestindo e rezando para que as receitas aumentem?

- Onde entra o tal “projecto” no meio disto? E que projecto é esse?

Eu sei que estas são perguntas retóricas e disso não passarão, até porque o lugar para as mesas serem colocadas é a reunião magna. O que mais custa é que algumas foram mesmo colocadas e tiveram a mesma resposta que eu vou ter…

Civismo em português

Esta cena passou-se numa grande superfície de Guimarães, ali para os lados da Cruz D’Argola, cujo nome começa em IN, acaba em CHÉ e pelo meio tem as letras TERMAR.

Uma senhora, muito bem posta, vai a pegar no seu carrinho de compras, quando repara que o mesmo tem uma série de revistas e folhetos promocionais. Que aborrecimento.

Ao lado de um caixote do lixo, o que é que a senhora decide fazer? Deitar o lixo ao lixo? Não, claro que não. Com a cara mais enfadada do mundo por a terem sujeitado a semelhante humilhação, pega nos folhetos e trás… carrinho da frente com eles. Quiçá mais uns minutos e uma outra senhora, com uma cara não menos enfadada, faça o mesmo… E outra e outra. Deve ser este o conceito vimaranense de reciclagem…

sábado, outubro 28, 2006

27 de Outubro de 2006

A retoma é tão boa, não foi?

É com redobrado regozijo, meus amigos, que escrevo esta coluna, nesta semana. Afinal de contas, a crise acabou. Quem o disse foi Manuel Pinho, nosso insigne ministro. Esperem. Notícia de última hora. Interrompemos a emissão para informar que, afinal não. A crise não acabou. Ninguém no seu perfeito juízo diria tal coisa. Quem disse que o que tinha dito não poderia ter sido dito por alguém no seu perfeito juízo? Manuel Pinho, himself, também. Pois…

Lembram-se da coluna da passada semana. Dos praças que almejavam a ser generais. E da legitimidade que qualquer um pode ter a ser general num governo em que só temos ministros com a habilidade de praças. Era escusado darem-se ao trabalho de ilustrar tão bem a minha teoria….

Rivoli Okupado

É lugar comum aquilo que vou dizer. Eu sei. E assumo. Já toda a gente ouviu isto, pelo menos umas quinhentas vezes. Agora são quinhentas e uma. Vivemos na ditadura da televisão. Os canais de televisão fazem a agenda e impõem-nos aquilo que temos de considerar como verdadeiramente importante.

Aquela ocupação do Rivoli é disso exemplo crasso. Junte-se meia dúzia de gunas, com lenços à Arafat e vestidos à bloquista que compra a roupa na feira da ladra, que já de si gostam de pouco mais fazer do que fumar uns trolorós e tocar batuques. Adicione-se umas noites frias, onde até dá jeito ter um abrigo. Ponham em todos eles um esgar de dor, sofridíssimo, provocado pelo sacrilégio de privatizarem a gestão de uma casa onde, quase de certeza, nunca nenhum deles antes tinha entrado. Uns cartazes, umas “boinas” à Bob Marley, umas t-shirts com a cara do Che Guevara e muito, mesmo muito charro.

À partida não parece uma noite muito diferente de muitas, inclusive no centro histórico de Guimarães. Não fora estarem supostamente a protestar, invadindo um edifício público, fechado, logo cometendo um ilícito.

Agora, alguém me explica o porquê da demorada e extensiva cobertura que as televisões deram a tão pobre e pouco participada manifestação “popular”. Ainda por cima com o decor que acima descrevi…

O politicamente correcto

Cada vez mais me irrita profunda e solenemente a corrente vigente do politicamente correcto. E cada vez mais me lembro do sketch do Ricardo Araújo Pereira, do falam, falam…

Vem isto a propósito de um texto que foi apresentado pela CDU na última Assembleia Municipal (se eu fosse politicamente correcto diria por um partido com representação na Assembleia Municipal de Guimarães) contendo uma séria de vacuidades e clichés.

Não vou precisar de que se tratava ao certo, até porque creio ter saído algo sobre esse texto aqui no NG há duas semanas.

A única coisa que me apetece mesmo perguntar é o seguinte: Se porventura a AM tivesse aprovado e subscrito esse texto, cuja não aprovação me pareceu ter sido lamentada, o que melhoraria na vida dos vimaranenses? Que efeito prático teria a anuência a um texto que diz tanto podia dizer “temos que ser solidários” como também “temos de diminuir o desemprego”. Mas alguém discorda? Alguém no uso pleno das suas faculdades não concordaria? Claro que não. É obrigatório concordar com tais afirmações. Presumo que os três partidos que votaram contra o fizeram porque acharam que, votando a favor ou contra o efeito do mesmo seria o mesmo da abstenção.

Temos o seu pequeno-almoço

Nunca pensei que essa frase me fizesse tão mal ao estômago. Não pelo pequeno-almoço em si. E nem pelo português da frase. Fez-me mal porque a vi onde vi. No chão do bar de apoio à bancada onde vejo futebol, no D. Afonso Henriques.

Jogar ao domingo de manhã já é uma decadência. Lembrarem-nos num domingo à tarde do facto de que nesta época jogamos de manhã, com uns pezinhos amarelos pintados no chão, a guiarem-nos até essa cortante frase, ou é gozo ou é sadismo.

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