13 de Abril de 2006
Já repararam na figura que estão a fazer?
Já aquando do último Portugal x Bélgica em selecções AA, estive para abordar este assunto, porque na altura achei de um fantástico sentido de oportunidade um texto de David Borges, publicado numa página Internet de informação desportiva, o sportugal.pt.
Nesse texto, David Borges, questionava – e bem – a postura dos jornalistas modernos, no que toca ao querem poder exigir declarações de quem as não quer dar. Se bem se lembram da palhaçada ocorrida em pleno aeroporto da Portela e não querendo desculpar de maneira nenhuma as infelizes declarações de Stinjen, que pelo sim pelo não e à tabela, levou quatro de castigo, aquilo a que assistimos foi a uma autêntica selvajaria. Os jornalistas portugueses rodearam os membros da comitiva belga de tal modo que, mesmo que a vontade dos belgas fosse apenas andar, nunca o conseguiriam sem empurrar um qualquer jornaleiro de serviço. E no entanto, as manchetes do dia a seguir foram quase unânimes, chamando selvagens aos belgas.
A doença dos paparazzi pegou-se aos jornalistas. Os primeiros fotografam mesmo quem não quer ser fotografado e os segundos querem à força toda que lhes prestem declarações, nem que seja à força. E quem diz à força diz, nem que seja preciso não os deixar avançar para que lhes seja arrancada uma palavra.
Ainda esta semana vi mais um exemplo dessa turba em acção. No julgamento do sargento Luís Gomes – explicando melhor, caso esteja alguma participante da “bela e o mestre” a ler este texto, é aquele, o pai afectivo da menina de Torres Novas cujos pais biológicos querem que volte a casa – à saída do tribunal, que vergonha… Parecem uns cães selvagens a lutar por um osso. Uns sem-abrigo disputando uma casa.
Metem-se à frente das pessoas, interpelam, atropelam, empurram, pisam, fotografam, invadem, devassam…
E toda esta degradação é aturada porque à mínima tentativa de “defesa”, eles lançam o seu cão de fila, o tão estimado direito à informação. Aquele que só serve de vez em quando, sendo o quando, aquele que mais lhes convém. Parece que temos de aturar tudo… E ainda querem respeito.
Disfarçado sob a capa de superior interesse nacional, aquilo que mais não é do que um emprego como outro qualquer, perde toda e qualquer legitimidade para exigir o que quer que seja quando vemos o panorama geral da comunicação social.
O que não falta são grupos de comunicação social que, por variadas vezes, já demonstraram que a única coisa que realmente lhes interessa são os seus reais interesses. Qual informação, qual liberdade, qual isenção, qual rigor… Interessa mesmo é vender jornais, mesmo que o que é verdade hoje seja mentira amanhã.
Mesmo que sob a capa de critérios editoriais – eufemismo para aquilo que mais não é que minudências e pequenez – se vete determinada figura ou entidade. Eles têm de ser respeitados, mesmo que só respeitem quem lhes convém.
Isto está tão mal que qualquer palerma – até eu – escreve num jornal.
Até o Eugénio Queirós, vejam lá. Esse muito mais que eu. Escreve mais e é muito mais palerma. Esse mesmo, que é editor do jornal Record e que tem um blog que pode ser visitado em http://bolanaarea.blogspot.com/.
Recomendo vivamente as passagens referentes ao jogo Vitória – Leixões, com o sugestivo título de Viagem ao Kosovo, algumas das quais vou transcrever aqui:
- Aqui se diz que nasceu Portugal (se for assim, estamos esclarecidos).
- Mas a malta dos 7 autocarros continuava sem entrar. Já lá estavam, retidos pela polícia nos autocarros, que iam sendo pontapeados pelos primatas vimaranenses.)
- Os verdadeiros heróis que se arriscam a seguir a sua equipa numa viagem ao Kosovo em plena guerra civil.
- O momento do jogo já em tempo de compensação: José Manuel Teixeira, para sempre o nosso presidente, o karateca, passa uma palheta a Henrique junto ao banco do Leixões e é expulso, o que lhe valeu a astronómica multa de 150 euros. Grande Zé Manel!
- Imagem inesquecível: os "adeptos" do Vitória contidos em dois cordões policiais, espumando-se, enquanto nos encaminhavamos para os autocarros.
- Fomos ao Kosovo e voltamos vivos.
Atentem bem no ódio presente em cada uma das frases e depois reflictam. Que respeito merece esta gente? Não apetece manda-los para a bancada? Claro que este texto não foi publicado no Record, não fosse o Geninho um profissional da imprensa e tivesse amor ao emprego… Mas o que é certo é que a qualquer altura estamos sujeitos a ter este cromo a escrever algo sobre o nosso Vitória. E num jornal desportivo de dimensão nacional.
Que isenção pode este tipo de gente apregoar? Que pode este tipo de gente exigir? Neste caso, quem pode exigir, é todo um clube. Quem deve exigir é toda uma cidade. Exigir um pedido de desculpas e exigir que este leixonense de raciocínio tolhido, não mais se pronuncie no Record sobre o Vitória. Isso é que se exigia.
1 Comentário:
Cala-te abecula
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