segunda-feira, junho 11, 2007

08 de Junho de 2007

Os verdadeiros democratas

Ainda que já tenha ocorrido há algumas semanas, só agora fiquei com a certeza absoluta de que tinha de desabafar sobre isto.

Estava hesitante, mas quando o telejornal da RTP abre com a notícia de que a responsável pela suspensão de Fernando Charrua, o professor que, em privado, fez uma piada sobre o primeiro ministro, foi reconduzida no cargo, a revolta apoderou-se de mim. O pidesco processo, já amplamente debatido e dissecado, parecia já estar quase a ficar esquecido, quando vemos que afinal a recompensa ao carrasco não tardou.

Não tarda muito, veremos o colega delator – eufemismo para chibo – também promovido. Onde pararemos a seguir? Não sei. Mas isto de ver punições por delito de opinião, não lembra a ninguém. A não ser, talvez, aos bastiões da verdadeira democracia, a pura, a única, a democracia socrática.

Quando uma piada num gabinete, sobre uma matéria do anedotário nacional – a licenciatura Independente em Engenharia de José Sócrates – dá direito a represálias, começo a ficar com medo…

Heróis da Net

Um amigo meu usa uma expressão, à qual acho um piadão, que é a que dá título a este pequeno texto, que é “heróis da Net”.

De facto, desde os tempos do mIRC – um, agora, obsoleto programa de conversação na Internet, que nos seus tempos áureos, nomeadamente na rede Undernet, era ponto de encontro de milhares de internautas – que, volta e meia, lá aparecia um ou outro pato bravo que, a coberto do sempre útil, para os cobardes, anonimato desafiava tudo e todos, atacava a torto e a direito, ameaçava, fazia e acontecia.

Na maioria das vezes, quando descoberta a verdadeira identidade do artista, não passava do miúdo que nunca tinha tido uma namorada, a quem nunca deixavam jogar futebol, foi várias vezes “ao poste” no Liceu e que passara uma adolescência infeliz, sofrendo claramente os efeitos de uma utilização excessiva do computador.

No entanto, atrás de um computador, tínhamos um Incrível Hulk. Transfigurava-se. Tínhamos homem.

O mIRC passou de moda, mas essa outra moda perdurou. Seja em sites ou blogues, o que não falta é gente, muito cáustica e directa, a dizer mal de tudo e todos, mas sem dar a cara. Muito frontais, portanto.

Isto de, atrás de um nickname dizer aquilo que, por este ou aquele motivo, não se assume, na minha opinião, não passa de uma canalhice. Coisas de ganapos. Mas há quem ache muita piada. O que eu gosto é de ver homenzinhos para assinar e dar a cara por uma opinião, ainda que desalinhada, divergente ou polémica é que é preciso.

É que isso é demonstrativo de uma fraqueza muito típica desta zona e que teima em não mudar. Criticar quem faz, mas nunca fazendo e nem assumindo qualquer responsabilidade. Atirar a pedra e esconder a mão.

Mas quer-me parecer que já perdi tempo demais com isto…

Titulocracia

Um cronista de relevo nacional, podendo até ser considerado uma referência, na sua área, defendeu que se devia abdicar do uso indiscriminado do título académico de Dr. em favor de um título profissional. O advogado teria como título advogado, por exemplo, e o Dr. seria o médico. Nada contra. Acho apenas que um argumento que vem exposto nesse texto remete essa opinião para o canto das opiniões tendenciosas e corporativas.

Dizer que agora, com Bolonha, se corre o risco de a curto prazo termos milhares de Drs. o que dá a entender é que esta não é uma opinião contra a titulocracia, mas sim a favor da manutenção da exigida deferência no tratamento a que alguns drs. se habituaram.

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