15 de Junho de 2007
Os verdadeiros democratas (parte II)
Na parte I deste item, na coluna da passada semana, terminei dizendo que começava a ficar com medo. Se bem se lembram, o texto versava sobre a recompensa à delatora do caso Charrua, porque o castigo ao Charrua, itself, já houvera sido amplamente debatido. E começo a ficar mesmo com medo. Com medo das perseguições movidas por estes políticos.
Nos mais variados sectores da sociedade, os políticos gostam de se imiscuir. De mandar. Mandar recados, mandar em alguém. Mesmo de fora, mandar. De preferência, ter alguém bem mandado, dá mais jeito do que estar presencialmente. Se se conseguir ir moldando, minando, orquestrando, colocando, tirando e pondo, riscando, do lado de fora, sem a necessidade de exposição e aborrecimentos dela indissociáveis, óptimo.
E esse é um dos segredos do sucesso na política. Dessas relações, dessas teias, dessas interdependências, dos jobs e dos boys, depende a sobrevivência num mundo tão canino e manhoso quanto esse.
Deve ser por isso que nunca me “dei bem” na política.
Valha-nos que vivemos num Estado de Direito, que assenta na separação de poderes. Já imaginaram o que seria se por acaso também conseguissem, na magistratura, mover influências? Ou se a polícia deles dependesse? Com toda esta tentação totalitária, seria, no mínimo, muito perigoso.
A ditadura dos telemóveis
Há por estes dias que correm, uma quase dependência dos telemóveis. Eu faço mea culpa. Também eu dou para esse peditório.
Aquilo que à partida seria uma ferramenta, um utensílio, do qual nós retiraríamos alguma utilidade, transformou-se num vício. Numa prisão.
É hoje quase impensável sair de casa sem, pelo menos, um telemóvel. Sendo que por telemóvel, agora, tem-se um aparelho com máquina fotográfica, software variado, leitor de mp3, Windows, bluetooth, wi-fi, e-mail e que, vejam lá, até faz chamadas.
Tento-me lembrar de como era “dantes”.
Naquele tempo, que hoje parece tão distante mas que não vai há muito mais de dez anos, em que os miúdos, chegadas as férias grandes, brincavam de manhã à noite, andavam de bicicleta, davam grandes passeios e passavam horas sem passar em casa. E tudo isto sem telemóvel.
No tempo em que, quando se precisava de pedir aos pais para nos irem buscar e tínhamos de ir a um café e ligar para aquela coisa antiga e em desuso, que é um telefone de rede fixa.
O anacrónico e ultrapassado telefone. Aquela coisa que se não nos apetecesse atender, ninguém levava a mal, porque podíamos não estar em casa.
Sem a obrigação de estar contactável. Sem o sentimento de culpa por não atender o telemóvel, quando não apetece. Sem necessidade de uma justificação rocambolesca, do género “não tenho rede” ou “estou a ficar sem bateria”.
Agora não. Temos de atender. Se não atendemos ainda levam a mal.
Os pais não podem ter os filhos uns minutos sem estarem contactáveis. E vice-versa. Nas empresas, sob pretexto de terem de reagir na hora e de terem de estar contactáveis a qualquer hora, o telefone no ouvido ocupa certamente mais de metade do dia de trabalho.
Estou em crer que se pusermos nos pratos da balança os prós e os contras desta coisa, o dos benefícios não suplantará o dos transtornos.
Mas isto, sou eu a falar…
Há determinadas alturas em que, quem sabe, devido ao cansaço, ou até à mesquinhez que nos rodeia, o desânimo ameaça levar a melhor sobre a vontade de fazer sempre mais e melhor.
Esta é uma delas. Amanhã veremos.
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