23 de Novembro de 2007
Jorge Palma
Por ocasião do aniversário do Pavilhão Multiusos de Guimarães, decidiram os responsáveis da Tempo Livre – e muito bem, na minha humilde opinião – que a efeméride merecia ser comemorada com pompa e circunstância. Vai daí, Jorge Palma em Guimarães.
Tomei imediatamente a decisão de adquirir o meu bilhetinho. Seria, por certo, dos concertos em que conseguiria, de cor, cantar quase todas as músicas (para mal dos pecados dos meus vizinhos de cadeira).
É que já vem muito de trás o meu gosto pela música do Jorge Palma. Seria uma constante numa “banda sonora” (em havendo semelhante coisa) da minha vida. Já fui feliz ao som de Palma. Mas também já o ouvi, triste.
Ao chegar ao Multiusos achei invulgarmente fácil estacionar o carro. Comecei a temer o pior. Casa vazia, pensei eu. E ficava desiludido. A sério que ficava. Às vezes dá-me para estas coisas. Sou assim meio sentimentalão. Era como se corresse mal uma festa de um amigo. E ao Jorge, que já ouvi mais que à maioria dos meus amigos, acho que merecia ter uma boa casa. Gostava mesmo que tivesse. Pela coerência e perseverança na carreira. Mas entre ter uma carreira ou ser um Carreira… vai a diferença entre encher um pavilhão, ou nem por isso.
Quando chego à sala, vejo que houve algum cuidado em minimizar a adesão abaixo das expectativas – pelo menos das minhas, que sou um eterno optimista – dividindo a nave a meio, para que o vazio não enchesse tanto a sala.
Nas laterais, meia casa. Nas cadeiras de plateia, quase cheio. No geral, pode-se dizer que estava assim-assim. Meia casa. Assim como de meia, mas idade, era a assistência, conforme seria de esperar, que, maioritariamente, nos trinta começava. O fenómeno “Encosta-te a mim”, que deu pela primeira vez a platina a Jorge Palma, não se fez, ainda, sentir. Era notório um conhecimento generalizado da carreira de Jorge Palma na assistência, que tanto trauteava o “Dormia tão sossegada” como o “Só”. Algo entre os que cresceram com ele e os que com ele envelheceram.
Foi um concerto longo, sem encores, com o artista acompanhado pelos excelentes “Demitidos” a percorrer as décadas de carreira, com muitas recordações (excelente versão funk do “Frágil”, por exemplo), bem como com algumas músicas mais recentes, quer do último “Voo Nocturno”, quer do “Norte”.
Por uma questão de gosto pessoal, para que tivesse sido mesmo um concerto de discos pedidos, só faltou mesmo “Terra dos sonhos”, “Jeremias o fora-da-lei” e o sublime “Lado errado da noite”.
Globalmente, saí muito satisfeito. No entanto, para ser correcto, tenho de dizer que houve alguns pontos de que não gostei mesmo nada.
A colocação das colunas, laterais ao palco, por exemplo, impedia uma boa visualização do palco a todos quantos não conseguiram bilhete nas filas centrais de cadeiras.
O monólogo muito repetitivo e por vezes roçando o apalermado, do artista, dando inclusive a sensação de que o, esperado, estado ébrio foi propositadamente exagerado, quiçá por uma questão de imagem de marca…
E por muito que me custe, esperava mais algum profissionalismo. Houve uma frase, que Jorge Palma disse entre músicas, de que não me consigo esquecer. “Sinto-me feliz por poder fazer um ensaio com tanto público”. Eu, por acaso, senti isso. Senti-me a assistir a um ensaio geral dos concertos que Palma vai dar nos Coliseus.
Mas talvez tivesse elevado muito a fasquia. Ou talvez, a não se enganar nas letras e a ser mais profissional, não fosse, simplesmente, Palma.
Nós, os localistas
Disse-me um amigo que um colunista do Correio da Manhã, achou uma expressão minha, que, supunha ele, era relativa à regionalização, sintomática de um localismo onde “não importa se o todo (incluindo a minha parte) está mal desde que o meu vizinho não pareça ficar em melhor situação do que eu.”
Meu caro. Não creio que tenha percebido bem o que eu quis dizer e não me parece que essa argumentação me vá convencer do contrário.
Eu sinto-me vimaranense. Não me sinto minhoto ou nortenho. Nem me lembro de tal coisa. O meu comentário queria dizer, exactamente aquilo que lá estava. Não era referente a regionalização nenhuma. Falava na generalidade, abstraído da interpretação política que o mesmo poderia ter.
Mas se quer mesmo saber, não sou regionalista. E não reconheço ao Porto ou a Braga – e respectivas classes políticas – qualidades que me façam querer suspirar pela sua ascensão. Vejo melhor por cá. Mas ainda assim, mal por mal, prefiro ficar como estou. Incompetência por incompetência, que se mantenha – e este mantenha tem o sentido amancebado da coisa – apenas uma, a actual, a centralista, que já sai bastante cara.
Não tem nada a ver com invejas ou não querer que eles não pareçam estar melhor que nós. Isso é redutor. Isso soa-me a argumento de bracarense ou de portuense…
Gostei, no entanto de saber que, por aí, lêem jornais “localistas”, de cá, da invejosa província. Não gosto tanto é quando fantasiam, tentando interpretar as coisas que escrevo de modo tão simples e directo. O que disse e volto a dizer foi que sempre que me falam em Minho, penso que lá vêm os bracarenses com “ela fisgada”. E quando me falam no Norte, de certeza que no seguimento vão falar na “sua capital”.
Nada de novo, não é verdade?
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