18 de Janeiro de 2008
Pitoresco ou terceiro-mundista?
Nestes dias em que a nossa (portuguesa) confiança já os teve melhores, e em que “é bem” dizer mal do que é nosso, de preferência minimizando-nos enquanto povo por comparação com outros, por vezes é necessário sair da Pátria para que a consideremos um pouco mais.
Recorrentemente usa-se agora a torto e a direito a expressão de que o nacionalismo / patriotismo se cura viajando. Se, para servir alguns interesses a expressão não é mentira, o contrário é tão ou mais válido.
Se não, atentem.
Itália, no que diz respeito à minha actividade profissional, ainda é o País com as principais feiras internacionais. Uma delas, já a caminho da sua 70ª edição, realiza-se bem no norte de Itália, nas margens do Lago di Garda, em Riva del Garda.
Esta região fica a quase 200 kms de Milão, principal aeroporto que serve a zona, já bem perto da Suiça e Áustria.
Costumo dizer, meio a brincar meio a sério, que é mais ou menos como se a antiga feira do sector do calçado português, a MOCAP, se realizasse em Trás-os-Montes.
Os visitantes estrangeiros aterravam em Pedras Rubras – aquele aeroporto que tem o animador nome de um homem que morreu de acidente de avião – e ou alugavam carro ou então eram metidos em autocarros, não em direcção a Matosinhos, mas sim com destino a Vinhais. E tinham de ir felizes da vida, agradecendo muito porque lhes estávamos a proporcionar o usufruto de uma paisagem agradável.
Chegados ao destino, o recinto da feira propriamente dito, não é um. Há um principal, maior que os outros. Mas para além desse, entre o Palácio de Congressos e o Casino do Arco, o recinto afinal, é uma boa meia dúzia. Todos eles oficiais. Que distam seguramente mais de dez quilómetros entre eles. Fora os expositores que não expõem na feira, mas sim em hotéis nas redondezas. Confusos? Agora imaginem lá…
Para não baralhar mais, imaginemos então que o recinto principal é uma labiríntica estrutura P3+1 (três pisos mais um, em que o mais um é o parque de estacionamento do último piso com uma tenda cheia de expositores do Bangladesh, Paquistão, Sri Lanka), com quatro pavilhões por piso.
À esquerda de quem entra ainda há uma tenda onde está uma dezena de expositores portugueses. Para usar um eufemismo, vou apenas dizer que as condições são fraquinhas…
Lá como cá, estava a chover. E bem. Normalmente chuva em Janeiro, para quem está no ramo do comércio a retalho de calçado, é uma bênção. Lá vão sair mais umas botitas, é a primeira reacção do sapateiro. E foi. Mas só até chegar ao parque de estacionamento pago. Nada contra o parque ser pago. O que me causou espécie, foi mesmo os parques serem em terra. Ou melhor, terem sido em terra, no Verão. Agora são lameiros. Se fosse cá, caía o Carmo e a Trindade e ainda levávamos com uma data de terceiro-mundistas.
Lá não. Como é em Itália, a chafurdice tem muito estilo e é pitoresca. Faz-me lembrar uma história que uma professora minha, no Liceu, contou e que girava em torno da falta de beleza das mulheres. Havia uma mulher pobre e pouco bonita, que era feia. Uma ainda menos bonita, mas rica, já era exótica.
Era ver os normalmente super exigentes alemães a comer sanduíches, que não vinham embaladas individualmente, equilibrando a lata de bebida na outra mão, encostados ás paredes, porque mesas, nem vê-las… E eles felizes.
E os ingleses, visceralmente picuinhas, calcorreando estreitos corredores entre stands onde os expositores chineses comiam com as caras enfiadas nas tigelas de massa e arroz… E eles felizes.
Um caso de dois pesos e duas medidas.
O que é certo é que a “nossa” MOCAP, definhou, até morrer no edifício da Alfândega do Porto, numa feira onde havia mais expositores que clientes, depois de ter passado por recintos de feiras com excelentes – à altura – condições, como era o caso do Palácio de Cristal, do Europarque e, claro está, da Exponor.
Lá não. Andam felizes. Se aquela feira fosse cá, já uma ASAE qualquer a tinha fechado.
E o pior é que, mesmo que não se queira, lá se tem de ir. Ainda que não feliz.
Coisas que se aprendem no estrangeiro
Aprendi agora, em Itália, algo da História de Portugal que desconhecia por completo. Há coisas que só mesmo lá fora, num sítio onde as criancinhas desde novas são tão inteligentes que até falam italiano, se pode ficar a saber.
A meio de uma daquelas conversas estúpidas de bar do hotel, entre bebidas de fim de noite, e notando que o barman parecia querer que comunicássemos em inglês, idioma que domino algo melhor do que o faz o nosso Primeiro – ainda que não tenha feito a cadeira de inglês técnico na Independente – o barman, lapidarmente e após constatar que os portugueses, regra geral, até se desenrascam bem no inglês, vai buscar a explicação para esse “jeito” ao facto de termos sido uma colónia inglesa. Ora toma.
Enquanto o meu irmão lhe tentava explicar que talvez ele se tivesse baralhado, e confundido o Tratado de Methuen com colonização e que do Reino Unido nós só éramos aliados e que, volta e meia, lhes ganhávamos em jogos épicos de futebol, ele contrapunha com o livro de História que tinha estudado na escola. E que tinha a certeza absoluta. E que até os ingleses são os turistas que vêm em maior número para Portugal, logo, fomos colónia.
Apetece dizer, parafraseando Scolari: E o burro sou eu?
1 Comentário:
A luz...que te deixo...é da cor da minha vida...
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