17 de Novembro de 2006
Ajudem-me a fazer esta conta, que eu não chego lá…
Segunda-feira lia nos rodapés multicoloridos dos telejornais, aquela salgalhada cromática e agressiva à vista, que nos distrai da notícia e nos chama a atenção para tudo menos o pivot ou a peça, que devido ao tempo – calor a mais para a altura do ano – as vendas tinham caído 50%. Mais uma vez? Mais 50%?
Ora aqui está um dos mais misteriosos mistérios (passe a redundância) deste nosso Portugal. Neste Novembro caíram 50%. No Verão já tinham caído 40 e tal por causa de qualquer coisa. E no ano passado, por causa do frio, ou do calor, ou dos chineses, ou dos espanhóis, ou dos passarinhos que não cantaram suficientemente afinados, houve das maiores quebras de que há memória: foi terrível quase 60%...
Quebrou em relação a quê? Ao mesmo período do ano anterior? Ou relativamente àquilo que o comerciante queria vender, ou achava que ia vender?
Alguém acredita que multiplicando todas estas percentagens pelas quais temos vindo a dividir para encontrar as quebras, chegamos ao valor real daquilo que já se vendeu? Eu não. Soa-me a que nem as quebras são e nem as vendas foram tão grandes quanto o peixe que nos “vendem”. Se é a televisão, sem nada melhor, que recorrentemente induz os comerciantes a dizer as mesmas coisas nos mesmos períodos do ano ou se é mesmo “choradinho” patológico, não sei.
Independentemente da resposta à anterior dúvida existencial, o que sei é que já satura. Pode até ser verdade, mas já ninguém acredita. Desde que me lembro de ser gente, que as vendas quebram sempre em valores perto da metade. Duas vezes por ano, pelo menos.
Afinal quanto vendiam os comerciantes há uns anos atrás? Quantas dezenas de milhar por cento vendiam a mais do que vendem hoje?
Quanto a esta pergunta, não me parece que alguém me consiga “resolver este problema”. Não é conta fácil…
Os figurantes das low cost
Por motivos profissionais, cada vez mais me dava imenso jeito que houvesse uma ponte aérea Porto – Madrid. Mas não há.
Saindo do Porto, o voo da manhã chega a Madrid quase de tarde, o que para quem precisa de trabalhar e não pode ir de véspera (e por isso opta pelo avião) inviabiliza a nacionalista pretensão de “voar nacional”. Resta-me a solução Vigo. Uma horita de carro para chegar a um aeroporto que me faz lembrar o de Pedras Rubras há uns anos (quando éramos um país pobre e menos desenvolvido que Espanha e não podíamos ter aerogares de luxo) e apanho o avião das 7:00 da manhã. Uma horita depois estou em Madrid, mais que a tempo de a meio da tarde estar de regresso, depois das reuniões que me levaram à capital espanhola.
Do aeroporto de Vigo à mesma hora saem dois voos para Madrid, um é da Ibéria, o outro duma low cost. Escusado será dizer que eu fui no da Ibéria. Este “escusado será dizer”, dito assim até pode parecer que é por opção, ou porque faço mesmo questão de não voar em low costs. Nada mais falso. Principalmente numa viagem de uma hora, trocava de bom grado o meu bilhete – que custou para cima de um dinheirão – por um na “Air Europa”. Oh se trocava…
O problema é que quando preciso, nunca tenho lugar em companhia nenhuma de preços baixos. Está sempre tudo cheio e só três meses depois da minha necessidade de locomoção é que teria “vaga”.
Começo a achar que isso nem existe, as low cost são um mito urbano. As pessoas que vejo a passar por mim, sorridentes, com bilhete da Air Europa na mão, felizes por irem para a mesmo sitio e da mesma forma que eu, com a pequena diferença de o meu bilhete dar para pagar cerca de 20 dos deles, são figurantes contratados para gozarem com os que não podem planear viagens com três meses de antecedência…
Um bocadinho de preconceito puro e duro
Os espanhóis são o melhor povo do mundo a falar castelhano. E deviam quedar-se por aí. Poupavam-nos o decadente espectáculo de ouvir as hospedeiras e comandantes dos voos a tentar falar espanglês. “Leidiz and gentelmén, diz iz iór captéin éspiquingue.”
Se calhar, reconsidero. Que continuem a tentar. Assim até arranjei assunto para este curto texto.
A terra dos cinzentões
Já estava a tardar. Nesta terrinha, tudo o que saia da “medida standard” já é olhado de soslaio. Na terra dos grupos com poiso certo, das rotinas, dos compadrios, onde ninguém tem sucesso por mérito próprio – deve-se sempre ou a cunhas, ou à família, ou a negócios ilícitos – não era de estranhar que o estilo desempoeirado que adopto para a escrita desta coluna de opinião começasse a incomodar o status quo.
Aparentemente não foi só a mim que me caiu mal aquela história das letras a anunciar o pequeno-almoço no Estádio. A mim caiu-me mal ler, mas houve a quem caísse mal o eu ter lido e brincado com a situação. Azar. Não há vacas sagradas e o Vitória – e atenção que ninguém é mais vitoriano que eu – é e será merecedor de reparos meus, em relação àquilo que estiver bem, mas também (como soe dizer-se e está em voga) antes pelo contrário. Do Vitória, de Guimarães, do País, da Portugalidade, de amigos, de coisas que, no fundo têm apenas um denominador comum. Mexem comigo.
E tanto digo mal, como digo bem. Conforme me ditar a consciência. A minha, não a “comum”. O estilo jocoso, brincalhão, desempoeirado, leve, desabrido (aplicar ou adicionar a gosto aquilo que mais convier) é o meu. Com graçolas que podem nem ter graça nenhuma. Tiradas mais ou menos felizes. Deixo a seriedade para quem quer e para quem não sabe ser de outra forma. E não critico ninguém por levar as coisas demasiadamente a sério. Assim como quero que entendam que esta é a minha forma. Este é o meu estilo. Quem gosta lê, quem não gosta, passa à frente. Obrigado.
Caro João Almeida
Li com satisfação e agrado o seu texto da passada semana. Agrado redobrado pois vi que o dedicou em exclusivo à resposta à minha “simplória" provocação. Não sou merecedor de tanto. Não me leve tão a sério e nem veja o meu reparo como político, abstendo-me eu, por isso e não por falta de argumentos, de responder à parte ideológica e de mambo jambo de cartilha, até porque deixei o leitor de cassetes em casa. Sou um mero curioso, um eleitor com filiação num partido, mero militante de base, ainda que cada vez mais afastado da vida política, muito devido ao pragmatismo a que a minha profissão obriga e que me leva a ter cada vez mais dificuldade em entender essa vossa política.
Mas aprecio a coerência. Respondeu-me com um poema de um autor que, sou sincero, desconhecia e por tal conhecimento me ter proporcionado agradeço-lhe. Mas não resisto a mais uma pequena provocação (o que seria do quotidiano sem estas pequenas coisas que lhe dão o sal e a pimenta?): Achei interessante o modo que encontrou para me responder. Bonito poema. E curiosamente tem exactamente o mesmo efeito prático que teria tido o tal texto do grupo parlamentar da CDU na AM, se o mesmo tivesse sido aprovado.
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