sábado, fevereiro 17, 2007

16 de Fevereiro de 2007

O tempo, num dia assim

Poderia ter sido mais um dia. Apenas e só mais um. Um como tantos outros. Um, de entre os supostamente atarefadíssimos dias de trabalho, daqueles que são muito absorventes, mas que, ainda assim, nós os fazemos ainda mais do que, de facto, o são.

Mais um dia em que protelamos coisas que andamos a dizer, há meses, que temos de fazer. Temos de fazer… Ai o tempo, esse espartilho, que nos sufoca, manda e desmanda a seu bel-prazer. E nós lá nos convencemos, entre tantos afazeres profissionais, obrigações familiares, participações associativas, viagens, almoços de negócios, jantares e afins, que lhe – ao tempo – devemos obediência.

E nós, cá andamos, convencidos que o que fazemos é de importância extrema e nada mais interessa, enfiados nas nossas rotinas, nunca nos sobrando tempo para nada.

E depois acordamos. Chega-nos uma notícia daquelas que nos faz pensar. Pensar muito. Pensar na vida que andamos a levar, na que devíamos levar e ainda na que queríamos levar.

E quando confrontados com a notícia, aí sim, arranjamos tempo.

É então que nos damos conta de quão efémera é a nossa passagem e de como, tantas e tantas vezes, aplicamos tão mal o nosso tempo.

Hoje recebi a notícia de que uma pessoa que muito prezava, tinha partido. Um amigo da família, vimaranense de gema, daqueles que, pese embora ter, durante muito tempo, vivido no Sul, nunca deixou de ter aquele orgulho, aquele brilho nos olhos quando com ele falava de sítios, ruas, recantos e cheiros que lhe fizessem lembrar a Guimarães natal.

Um sacerdote, que foi capelão da Marinha, foi hoje a enterrar. O Monsenhor António Alexandre Melo foi sepultado em dia de S. Valentim, num dia que se engalanou e em que o Sol compareceu para abrilhantar a despedida, ao som de salvas das honras militares.

O Monsenhor Melo, há dois anos e meio, anuiu ao convite que lhe endereçamos, para que fosse ele a celebrar a cerimónia de baptismo do meu filho, na capela de S. Miguel. Desde então, por esta ou aquela minudência, não mais nos conseguimos encontrar para o prometido convívio.

Num dia já de si triste, eu estou ainda mais triste.

Vejam só: Hoje consegui “arranjar” tempo para o ver. Só que hoje foi tarde.

E hoje penso nos dias em que, como hoje, tinha sido tão fácil dispensar o tempo que hoje dispensei. Parei toda a manhã e ainda assim o mundo não parou de girar, não houve nenhum crash bolsista a nível mundial e nós por cá, continuamos em campanha para o Vitória…

Este é um daqueles dias em que dou por mim a pensar se vale a pena. E é também um daqueles dias em que tenho que dar a mão à palmatória e admitir que, neste admirável mundo novo, os valores andam totalmente invertidos.

E estes dias terminam invariavelmente com arrependimento. E com lamúrias e lamentos, pedidos ao tempo. Mas ele, inflexível, não cede. E não pára. E nem abranda.

Não depende dele. Cabe-nos a nós combate-lo. Antes que seja tarde…

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