sexta-feira, dezembro 29, 2006

29 de Dezembro de 2006

Saudades dos correios

Eu ainda sou do tempo em que os correios eram… correios.

Eram aquele sítio a que se recorria quando se queira fazer algo relacionado com, vejam lá, correios. Queria mandar uma carta, ia aos correios. Queria um vale postal, ia aos correios, aonde acorria também para levantar uma encomenda.

Agora não. Agora compra-se livros, peluches, adornos, bibelots e pechisbeques. Paga-se luz, água, telefone, telemóvel, seguro e o que mais for pagável. Faz-se tudo e mais alguma coisa. Há aplicações financeiras ao dispor do cliente, ao lado do posto de internet pública que foi plantado perto dos expositores de telemóveis e respectivos cartões e das vitrinas que, um dia destes, exporá o vinho que também está à venda.

Escusado será dizer que, para quem tem a infeliz ideia de tentar comprar um selo ou enviar uma carta, nos correios, a tarefa se revela praticamente impossível.

É que nos meio da amálgama de bugigangas e dos inúmeros serviços que os CTT agora prestam… esqueceram-se de pôr uma ou duas filas, exclusivas – ou pelo menos prioritárias – para quem quisesse um serviço postal.

Serviço mínimo

Esta é uma altura do ano engraçada… O País dá a sensação de entrar em autogestão. Há muita coisa fechada e o que não está trabalha com ritmo de quem desejava estar. Sinal deste estado letárgico são os telejornais.

Ele há com cada reportagem, por altura do Natal, nas televisões portuguesas… que não lembra a ninguém. Então aquela de uma tunisina que veio passar o Natal a Portugal e que por ser tunisina a passar o Natal em Portugal teve direito a ser entrevistada por dois canais diferentes. Que é que isso interessa. Em linguagem Natalícia, até se pode mesmo afirmar que isso não interessa nem ao Menino Jesus. Antes não haver noticiários e passar o Música no Coração…

Vamos lá ver se vai lá C’ajuda

Não resisti ao trocadilho, à graçola fácil. Provavelmente à associação que toda a gente faz quando se fala no nome do novo treinador do Vitória. E que já deve ter sido escrita para cima de um milhão de vezes. Adiante.

Piadinhas secas à parte, vamos ao que interessa. Não era uma figura com quem simpatizasse muito. Achava-o um bocado fanfarrão e até fala-barato.

Agora não. É o treinador do Vitória. Enquanto eu entender que está a servir bem os interesses do meu clube, até me esqueço que ele já nos chamou espanhóis, quando estava ao serviço do Arsenal D’Além Morreira. Temos tréguas. MAS atenção. Esqueço, mas não perdoo. Pelo menos enquanto não o ouvir a chamar marroquinos.

No entanto e na minha modesta opinião, nesta altura, o que menos precisávamos era de mais um clone de Mourinho. Logo, concordo com a escolha da direcção do Vitória. Sim, porque quando acho que fazem bem, também o digo. E neste caso, perante as possibilidades “disponíveis” no mercado, Cajuda parece-me bem.

Quem sabe se com o seu – goste-se ou não, mas que o tem, isso tem – estilo próprio não é o homem certo para o Vitória voltar a ter alguém que fale em seu nome com a saudável arrogância e orgulho de quem defende um grande do futebol! Sem medo de se assumir como favorito a ganhar todos os jogos. Não só sem medo, como sentindo-o como uma obrigação.

Um clube que na apresentação do seu novo treinador tem no complexo desportivo, num dia de semana, cerca de duas mil pessoas, não merece menos que alguém que o tenha como inquestionável favorito e por goleada em qualquer embate da Liga de Honra.

Força Cajuda!

Guimarães no seu melhor

Vou começar uma pequena rubrica, sem periodicidade predefinida, mas a realizar sempre que se justifique. No entanto, para que a mesma tenha sucesso, necessito do contributo dos meus leitores, enviando para o meu endereço de e-mail fotografias de curiosidades, pequenos apontamentos humorísticos, que tenham algo a ver com ou sejam de Guimarães.

Eu sei que o título não é lá muito original, mas uma vez que o jornal – O Independente – onde havia uma rubrica de nome “Portugal no seu melhor”, já não é publicado, eu tomei a liberdade de usurpa-lo, trocando apenas a palavra Portugal por Guimarães.

Começamos então por um letreiro colocado num minimercado ali para os lados de Azurém… pleno de vimaranensidade!!!


Feliz Ano Novo

Umas boas entradas no ano de 2007 para todos os leitores do Noticias de Guimarães, são os votos sinceros deste vosso amigo.

22 de Dezembro de 2006

O fado da moda

Gosto de fado. Não de todo o fado, ou melhor, não de todos os fadistas, mas gosto bastante de fado.

Para além da incontornável e incontestável Amália Rodrigues – a quem tive a honra de, em Alfama, no decurso de uma serenata em sua honra, presentear com uma rosa, já no crepúsculo da sua vida – fico feliz por ver uma série de novos valores a despontarem com qualidade e regularidade, nos últimos tempos. É sangue novo que permite enfrentar o desafio de fazer “perpetuar” o nosso fado, com um sorriso de confiança nos lábios. Ao ouvir uma Mariza, um Camané, uma Mafalda Arnauth, uma Kátia Guerreiro, uma Raquel Tavares eu fico confiante. E orgulhoso da nossa música.

Acho que para que as novas gerações “aprendam” a gostar de fado, muito têm contribuído os projectos de fusão, em que o fado é cantado por intérpretes de outros géneros e fundido com outros ritmos e melodias. Um bom exemplo disso, para mim, é o ChillFado. Um projecto com uma secção melódica de Chill Out, reinventando clássicos do fado. Ou ainda o projecto A NAIFA, já no seu segundo álbum. Ou até um projecto de Yolanda Soares, Fado em Concerto, onde o fado é fundido com Música Clássica.

Sei que muitos puristas do fado ficaram chocados com aquilo que atrás escrevi e com a minha sugestão de audição, mas tive de o fazer. Aliás, esta ideia da fusão já não é tão nova quanto isso.

Para ouvir sem preconceitos. Tradição com futuro. Enquanto ouvirem estas, não ouvem outras músicas.

Outras músicas

Aspirantes a músicos, acreditai! Qualquer um de vós pode vir a ser um cantor com muitos discos vendidos. Mesmo que não saibam cantar e as vossas letras e rimas estejam ao nível das produzidas por um aluno da 3ª classe.

Se um tal de FF consegue, qualquer um consegue!

Não foi ninguém que me disse. Fui eu que vi o seu execrável teledisco, ao nível do pior que se vê em karaoke, no TOP+, o que quer dizer que, não só consegue ter um disco editado como vende mais que outros, por certo bem melhores.

Um sinal mais para quem começava a desanimar. E um sinal menos, muito grande, para a nossa sanidade. Quero o livro de reclamações!

O livro de reclamações

O Português desde que aprendeu essa palavra, usa-a por tudo e por nada. Agora é moda “esgrimir” o pedido de livro de reclamações, ao jeito do “desafio-o para um duelo”.

De uma fase em que o português era conformado – até demais – e muito raramente reclamava, passou-se para a fase do deslumbramento. É este o tempo do novo-riquismo reclamador. Usa-se esse argumento como quem usa roupa de muitas marcas, todas elas bem visíveis e todas ao mesmo tempo. Figurinhas ridículas…

Ameaça-se com o pedido de livro de reclamações, mesmo que a suposta reclamação seja perfeitamente absurda. E não raras vezes, a par do livro de reclamações, vem a DECO a reboque – e não, não é a mulher do jogador – como par do livro.

Se uma marca decide que o mesmo modelo em materiais diferentes tem um custo diferente, a cliente que gostou do modelo, mas no material mais barato, exige o livro de reclamações. Faz barulho. Indigna-se. Revolta-se. É injusto e inconstitucional, vocifera. Só faltou dizer que vai recorrer até ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. E da mulher. Mesmo tendo o preço bem visível e marcado, especificando as diferenças de materiais. Mas ela não quer saber. Até vai chamar a DECO, vejam lá…

O nacional-parolismo no seu melhor. Perdeu-se a noção de respeito. Tudo serve para uma valente peixeirada. E logo com um povo que era tido por respeitador e até recatado.

Vou-vos confidenciar uma coisa, mesmo sabendo que estamos em plena época natalícia e que não o devia fazer. Mas a verdade é que tive vontade de lhe fazer o mesmo que me apetece fazer aos peões que se atiram para a passadeira, sem olhar sequer para ver se vem algum carro. E a vontade nesse caso não é travar…

No sapatinho quero:

Vou partilhar convosco uma prendinha que pedi ao Pai Natal. Uma prenda que não será só para mim, mas também para todos os vitorianos.

Por favor, Pai Natal, traz-nos uma Direcção. E já agora, se não for pedir muito, uma mesa da Assembleia-Geral, um Conselho Fiscal e um Conselho Vitoriano. Nem precisam de ser fora de série. Só precisam de o ser, coisa que estes não conseguiram. Obrigado.

Quero despedir-me da coluna desta semana com uns muito sinceros votos de um Santo e Feliz Natal para todos os leitores do Notícias de Guimarães e respectivas famílias.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

15 de Dezembro de 2006

O “tudo a eito”

Há determinadas profissões que devem ser imunes à crise… e à evolução.

Ter de fazer umas obras e encontrar profissionais eficientes é tarefa quase tão árdua quanto ver um jogo da II Liga com qualidade. Atenção que quando digo eficiente, não estou a ser picuinhas e nem exigente demais. Não, apenas peço alguém que consiga cumprir com aquilo que é contratado, conforme descrito, no prazo acordado. Nem precisa de ser de boa cara, que isso é pedir muito.

A dificuldade começa pelo orçamento… parece que nos vão fazer um favor do tamanho do mundo. Vão-nos conceder a honra de abdicarem de uns minutos do seu preciosíssimo tempo para, vejam lá o abuso da minha parte, “escrever aquilo que podia muito bem ser acertado ao fim”. O facto de eu querer saber de quanto é que vai ser o acerto não parece para aqui chamado. Nem interessa para nada.

Isto para não falar na sensação com que ficamos – ainda que sejam obras de vulto e muito bem pagas – de que nos estão a fazer um favor enorme. Pela postura parece que muitas chafaricas só ficariam contentes com a adjudicação de uma Ponte Vasco da Gama. Ainda que para orçamentar uma obra “modesta” demorem semanas, julgam-se estruturados para grandes voos. E mais que estruturados, injustiçados por não terem brevet. Se tivessem brevet, isso é que era. Ninguém os parava.

Há depois a lusa expressão do “trolhame” que mais me tira do sério. A frase da moda. O “tudo a eito”. O causador de todos os atrasos em Portugal. A mania de que se sabe programar. O terrível hábito de querer deixar tudo para a última hora, alegadamente por o trabalho só render se for feito “todo a eito”. Depois, com o prazo a aproximar-se, tem de se trabalhar noites e com o triplo dos funcionários que seria necessário se as obras fossem calendarizadas e os prazos respeitados. Mas não. Aqui não. É melhor ser tudo a eito… Mais caro, mais tarde, mas a eito.

Escusado será dizer que depois fica tudo “mais ou menos” pronto. Seja lá isso o que for. Mais ou menos pronto? O que é isso? Ou está pronto ou não está. É uma daquelas coisas em que não há meio-termo.

Tudo isto, segundo alguém com conhecimento de causa, tem tendência a piorar. Parece que agora os melhores profissionais estão a optar por trabalhar em Espanha, onde se ganha mais pelo mesmo serviço. Quem já viajou de madrugada, por exemplo, na A3 em direcção à Galiza, sabe que o que digo é verdade. São dezenas de ligeiros de passageiros cheiinhos. Ainda ontem, infelizmente, umas dessas viaturas sofreu um acidente e um trabalhador português foi cuspido e faleceu, sendo esse apenas mais um dos acidentes que têm vindo a acontecer com cada vez mais regularidade, o que é de lamentar. Mas voltando ao tema do texto, quer isto dizer que vamos ficar com os piores do pior. Se hoje em dia já é o que é arranjar um bom trolha, pintor, carpinteiro, serralheiro, picheleiro ou similar, temo pelo futuro. Resta-me desejar boa sorte na procura das agulhas no palheiro.

Acreditar

O Vitória cedeu o seu principal espaço publicitário – a frente das camisolas do equipamento oficial – a uma associação de apoio a crianças com cancro. E ainda uma parte da venda dos equipamentos. O que, para além do motivo óbvio e indiscutível, é bom, porque é sinal de que vêm equipamentos ainda esta época.

Causa nobre e nobre gesto do Vitória ao apoia-la, mostrando que é uma verdadeira instituição de utilidade pública. Generosidade inquestionável.

Não fico, no entanto, inebriado o suficiente e nem com enternecido com esta, volto a dizê-lo, nobre acção de marketing demonstradora de uma enorme responsabilidade social que me tolha o raciocínio a ponto de deixar de questionar se esta não foi uma saída airosa para a incapacidade de vender a marca Vitória e a sua principal montra. Ainda que, como tem vindo a ser advogado, tenham existido propostas concretas para a sponsorização do Vitória a nível das camisolas – e tudo o que o pack sponsor oficial inclui, logicamente – e as mesmas não tenham atingido os valores tidos por aceitáveis para esse efeito, não seria interessante juntar uma série de pequenos sponsors que, sozinhos não conseguiam pagar o que o Vitória vale, mas se associassem ao “mecenas” Vitória e suportassem indirectamente a inserção do logo ACREDITAR?

Isso sim, a meu ver seria interessante. O Vitória ajudaria uma causa nobre e a Direcção demonstrava capacidade para encontrar soluções para fazer face às necessidades de tesouraria. É que assim começa a ser cada vez menor a margem para depois vir desculpar-se com buracos e ao mesmo tempo fazer peditórios para autocarros. Parece-me de uma incongruência atroz.

Se me perguntarem se acho que o Vitória deve ser altruísta, respondo imediatamente que sim.

Se me perguntarem se acho que o Vitória tem vindo a ser altruísta e atento a causas sociais, digo com agrado que ocasionalmente sim.

Se me perguntarem se acho que “dar” o nosso mais nobre espaço publicitário (e que num período de quebras de receita poderia representar uma fatia importante do orçamento do clube) me parece uma decisão correcta a nível da gestão, respondo claramente que, em não havendo mecenas que a comparticipem, me parece uma fuga para a frente, uma manobra de diversão, uma saída airosa para um problema que não foi resolvido.

Mas como não me perguntaram nada… digo apenas que o coração diz que acredita e a razão cada vez menos.

Estudante e pouco trabalhador

Ontem ouvi na TSF umas declarações do ministro Mariano Gago a propósito de uma série de medidas, por ele defendidas, tendentes a regulamentar e incentivar a ocupação parcial dos estudantes do ensino superior. Dizia o ministro que Portugal deve ser dos únicos países onde se tem como dado adquirido que o estudante do ensino superior o tem de ser em exclusivo. Dava o exemplo de uma série de países, bastante mais ricos que nós, onde era perfeitamente normal os estudantes terem uma ocupação temporária, que os ajude a custear as suas despesas.

Parece-lhe mal, caro leitor? A mim não. Muito pelo contrário. Acho inclusive – e esta note-se não é uma teoria com qualquer base científica, mas apenas baseada na minha opinião pessoal – que muitos problemas de insucesso no ensino superior advêm precisamente do facto de os estudantes o serem em exclusivo. Têm tempo livre a mais. E mais ainda quando muitos deles saem pela primeira vez da casa dos pais, aquando do ingresso no ensino superior, a falta de regras dá mau resultado.

E o presidente da AAC, supostamente em resposta ao ministro – digo supostamente porque me deu a sensação que respondeu a alhos com bugalhos – vem responder que o ministro devia era averiguar o porquê de 40% dos alunos que entra no ensino superior não concluir o curso e que o ministro devia era investir nas instalações. Porque – dizia ele – se sem ocupação parcial, os níveis de insucesso estão como estão, se os pobres estudantes ainda tivessem de trabalhar, como seria…

Au contraire, digo eu. Muitos dos que abandonam precocemente a universidade fazem-no porque provavelmente não fazem ideia do esforço que os pais têm de fazer para que eles possam prosseguir os seus estudos a esse nível.

Se lhes saísse um pouco mais do corpo, já perceberiam o que a vida custa e o empenho seria com certeza maior. As desnorteadas declarações do presidente da Associação Académica de Coimbra só levam a que a vox populi depois seja do género: Não sobrava era tanto tempo para copos e tainadas…

domingo, dezembro 10, 2006

7 de Dezembro de 2006

Guiness Book of what ????

O português tem um fascínio incrível pelo livro dos recordes. Ele é com cada feito candidato a figurar entre os registos, que me deixa de boca aberta. Não os contabilizo, como é lógico, mas deve haver uma média superior a um por semana.

Esta semana foi o autor do maior Pai Natal marioneta do Mundo que teve direito aos seus minutinhos de fama. As televisões apressaram-se a dar cobertura ao grande feito. O Pai Natal marioneta feito pelo senhor era o maior do Mundo? Pudera! Quem mais no seu perfeito juízo se lembraria de semelhante? É normal que seja o maior. Provavelmente até é o único. E sendo o único deve ser o maior.

Mais engraçado ainda é ver o ar sério com que os candidatos terminam as declarações acerca dessas tentativas, dizendo que agora esperam que o seu recorde seja “ratificado”. Imagino a cara de enfado do “fiscal dos recordes” – que na hierarquia dos fiscais deve estar equiparado ao fiscal dos parquímetros – a quem cabe decidir pela validação do feito. Então o que for destacado para Portugal…

De feijoadas na ponte Vasco da Gama, ao maior pão de milho, passando pelo “muito nosso” bombo, às iluminações de Natal de Não Sei Onde de Baixo, sem esquecer a lavagem dos pratos da feijoada com um ínfima quantidade de detergente, há de tudo, como na farmácia. Começa a faltar é paciência…

Para além de que é no mínimo estranho esse fascínio pelo grande. O maior. Temos de ser o maior. Errado! Temos é de almejar a ser melhor!

Estou velhote… vim para isto

Muitas vezes dirigem-se-me pessoas, perguntando se as coisas que aqui relato são mesmo verdadeiras. Se aconteceram mesmo, questionam-me. Eu admito que às vezes até parece que não, mas é verdade. Acontecem tanto quanto aconteceu esta que agora vos conto.

Na semana passada optei por fazer um trajecto de táxi. Vinha de Lisboa – de Alfa, como sempre que me é possível – e tendo deixado o carro em Ovar, optei por não incomodar ninguém que me viesse propositadamente buscar e apanhei um carro de praça frente à estação de Espinho.

Saiu-me um dos faladores. Que tinha toda a vida trabalhado nos químicos. Nas tintas, sabe – interpela-me ele – acrescentando que depois os espanhóis compraram aquilo e o mandaram embora. Mas também já estava velhote. Entretanto estive no fundo de desemprego o tempo que pude. Mas agora já começo a ver malzinho. Prontos… reformei-me e vim para os táxis.

Diga-se de passagem que chovia que Deus a dava e as escovas do limpa pára-brisas nem uma brisa limpariam. Circulávamos em plena EN 109 de noite.

Não sei porquê não me senti seguro.

A democracia da bola ao poste

Esta foi uma semana complicada para os lados da Unidade. Levámos cinco do Rio Ave, logo é semana de contestação. E se tivéssemos ganho em Vila do Conde? Seria o mesmo ou teríamos voto de confiança?

Na Assembleia-Geral da moção de confiança disse que temia muito. Minto. Não disse nada disso. Não disse que temia. Disse mesmo que tinha medo. Que tinha muito medo pelo futuro do meu clube. Que tinha medo de que o “projecto ainda fosse a meio”.

Os acontecimentos desta época levam-me a pensar que afinal tinha razão. E como eu gostava de neste particular dar o braço a torcer. Mas não posso. Agora até o Norton de Matos vem dizer – depois de levarmos cinco – que tínhamos feito o melhor jogo da época. Devo estar louco…

Começa a ser altura de pensar, muito seriamente, em preparar o futuro.

São tantas as provas de inabilidade desta direcção, que todas as páginas deste jornal juntas não chegariam para as enumerar.

Atentemos só na parte da quebra de receitas, já que contas parecem ser um tema dos preferidos pelos defensores – ainda os há? - desta gestão. Numa época desastrosa a nível de receitas – esquecendo a parte da bola ao poste ou nas redes – o encaixe da venda de camisolas oficiais não ajudaria? Já se perdeu o Agosto dos emigrantes, o início de época dos crentes e agora o Natal dos consumidores. E ainda a rábula vai a meio.

E que dizer do número ínfimo de placas de publicidade vendidas no estádio e do panorama desolador da tribuna presidencial e camarotes, resultado da venda reduzidíssima dos mesmos?

Então se a isso juntarmos a ausência de patrocinador nas camisolas, o ramalhete fica realmente composto.

Lá se vai o mito de bom gestor…

segunda-feira, dezembro 04, 2006

30 de Novembro de 2006

O Pinheiro

Escrevo esta coluna no dia anterior ao Pinheiro, sabendo no entanto que a vão ler no dia a seguir. Sei que corro um sério risco de não me entenderem bem. Muitos dos que me lêem deitam-se tarde nessa noite. Ainda assim, cá cai.

Estranho calendário este que vigora cá no burgo, por finais de Novembro. O AP e o DP. Quem aterrar em Guimarães por estes dias perceberá pouco do que afinal rege as disponibilidades nestes dias que antecedem Dezembro. Os compromissos são marcados em função do Pinheiro. Quinta-feira de manhã muito pouco, ou nada, se poderá fazer sendo que a partir de meio da tarde de quarta ainda menos.

É algo muito nosso. Muito vimaranense. Nós percebemos isto. É algo que, mesmo a contra gosto de saudosistas dos tempos em que o Pinheiro era exclusivamente participado por antigos alunos do Liceu a noite dos Velhos Nicolinos – e eu até me enquadro nesse grupo, diga-se de passagem – neste momento já é uma festa da cidade. Foi aglutinada pela cidade. Há uma simbiose entre a cidade e as festas. Neste momento é incontrolável. Mulheres, futricas, alunos da Escola e das escolas, tricórnios, juntamente com Velhos Nicolinos num rufar simultâneo de dezenas de milhar de caixas e bombos.

Fazendo um pouco de futurologia, sei que hoje muitas conversas girarão em torno do “no meu tempo é que era”. Pois… mas esse tempo já lá vai. Por muito que nos possa custar. E o tempo não volta para trás…

Ou volta um bocadinho?

Reabriu em Guimarães uma casa que nunca devia ter fechado.

Falo de um snack-bar na Alameda, que – para eu não digam que eu estou a fazer publicidade – tem um nome de uma dança típica dos ranchos folclóricos do Minho, que começa com a letra V, acaba em A e suas das suas quatro letras são, por esta ordem IR. Depois também se chama Bar.

Senti-me a recuar uns anos no tempo. Não que o espaço esteja igual ao que era. De maneira nenhuma. Igual só mesmo aquele painel ao lado esquerdo de quem entra e a disposição do balcão e das “salas”. Acho até que a sobriedade do espaço, juntamente com o toque urbano da luz q.b., aliado aos sofás retro e à localização lhe dão uma sofisticação que fazia falta a Guimarães.

Este último parágrafo é muito bonito… mas o que conta mesmo é que eu gostei. Pode haver quem não goste e até discorde em toda a linha daquilo que acabei de escrever. Estética e gostos pessoais não se discutem.

O que, digo eu, não tem discussão é que o conjunto está muito bem conseguido. E a cozinha está ao nível que se esperava. Embalada pela novidade a clientela tem aderido em massa. Esperemos que a casa faça por merecer a atenção que tem merecido.

Eu aprecio a “cultura do snack-bar”. Gosto do Vira-bar, como gosto da Cervejaria Martins e como quase cheguei a gostar do “La Coupolle”. E esta casa fazia falta a Guimarães.

Mas o que aprecio mesmo e isso foi o que me fez sentir ter viajado no tempo, foram os ovos verdes, a saber mesmo ao mesmo que sabiam antigamente.

Por falar em antigamente…

Onde morava este povo todo?

Ao ver a selva de pedra em que a maioria das cidades portuguesas se está a transformar, tenho obrigatoriamente de pedir a vossa ajuda. Ajudem-me a decifrar este enigma… Onde morava toda esta gente?

Sempre ouvi dizer que Portugal tem aproximadamente 10 milhões de habitantes. Se a população não aumentou nestes últimos – pelo menos – vinte anos, de onde vieram as pessoas que habitam os largos milhares de novos fogos que se construíram entretanto?

Mistério… Um mistério quase tão grande quanto o do porquê de haver uma faixa exclusiva a “BUS” na Av. Conde de Margaride. Não. Para esse mistério já nem procuro explicação. Desisti. Desisti já há algum tempo de tentar perceber o que nem o Grissom do CSI entenderia. A faixa de Bus, o triângulo das Bermudas e o porquê de jogar com dopis trincos de características hiper defensivas - o Flávio Meireles e o Otacílio - contra o Trofense, em nossa casa.

Há certas coisas que me transcendem.

Lifting

Uma amiga minha, designer, achou por bem agraciar-me com uma prendinha de Natal antecipada, que eu hoje partilho convosco. A Carla Macedo, fez-me um lifting. Ou melhor, a mim não, ao meu cabeçalho. Ou não… Ao meu cabeçalho, salvo seja. Ao cabeçalho desta coluna.

Quis dar-lhe um ar mais consentâneo com o que a coluna contém, presumo. Eu gosto, aliás como de quase todos os seus trabalhos. Como a ilusão visual criada pelas colunas a “rasgar-me” a face, é a de que me encontro atrás das barras, quero que a coincidência não passe disso.

Agora mais a sério, espero sinceramente que seja do vosso agrado e aqui fica desde já o meu agradecimento.

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