30 de Novembro de 2006
O Pinheiro
Escrevo esta coluna no dia anterior ao Pinheiro, sabendo no entanto que a vão ler no dia a seguir. Sei que corro um sério risco de não me entenderem bem. Muitos dos que me lêem deitam-se tarde nessa noite. Ainda assim, cá cai.
Estranho calendário este que vigora cá no burgo, por finais de Novembro. O AP e o DP. Quem aterrar em Guimarães por estes dias perceberá pouco do que afinal rege as disponibilidades nestes dias que antecedem Dezembro. Os compromissos são marcados em função do Pinheiro. Quinta-feira de manhã muito pouco, ou nada, se poderá fazer sendo que a partir de meio da tarde de quarta ainda menos.
É algo muito nosso. Muito vimaranense. Nós percebemos isto. É algo que, mesmo a contra gosto de saudosistas dos tempos em que o Pinheiro era exclusivamente participado por antigos alunos do Liceu a noite dos Velhos Nicolinos – e eu até me enquadro nesse grupo, diga-se de passagem – neste momento já é uma festa da cidade. Foi aglutinada pela cidade. Há uma simbiose entre a cidade e as festas. Neste momento é incontrolável. Mulheres, futricas, alunos da Escola e das escolas, tricórnios, juntamente com Velhos Nicolinos num rufar simultâneo de dezenas de milhar de caixas e bombos.
Fazendo um pouco de futurologia, sei que hoje muitas conversas girarão em torno do “no meu tempo é que era”. Pois… mas esse tempo já lá vai. Por muito que nos possa custar. E o tempo não volta para trás…
Ou volta um bocadinho?
Reabriu em Guimarães uma casa que nunca devia ter fechado.
Falo de um snack-bar na Alameda, que – para eu não digam que eu estou a fazer publicidade – tem um nome de uma dança típica dos ranchos folclóricos do Minho, que começa com a letra V, acaba em A e suas das suas quatro letras são, por esta ordem IR. Depois também se chama Bar.
Senti-me a recuar uns anos no tempo. Não que o espaço esteja igual ao que era. De maneira nenhuma. Igual só mesmo aquele painel ao lado esquerdo de quem entra e a disposição do balcão e das “salas”. Acho até que a sobriedade do espaço, juntamente com o toque urbano da luz q.b., aliado aos sofás retro e à localização lhe dão uma sofisticação que fazia falta a Guimarães.
Este último parágrafo é muito bonito… mas o que conta mesmo é que eu gostei. Pode haver quem não goste e até discorde em toda a linha daquilo que acabei de escrever. Estética e gostos pessoais não se discutem.
O que, digo eu, não tem discussão é que o conjunto está muito bem conseguido. E a cozinha está ao nível que se esperava. Embalada pela novidade a clientela tem aderido em massa. Esperemos que a casa faça por merecer a atenção que tem merecido.
Eu aprecio a “cultura do snack-bar”. Gosto do Vira-bar, como gosto da Cervejaria Martins e como quase cheguei a gostar do “La Coupolle”. E esta casa fazia falta a Guimarães.
Mas o que aprecio mesmo e isso foi o que me fez sentir ter viajado no tempo, foram os ovos verdes, a saber mesmo ao mesmo que sabiam antigamente.
Por falar em antigamente…
Onde morava este povo todo?
Ao ver a selva de pedra em que a maioria das cidades portuguesas se está a transformar, tenho obrigatoriamente de pedir a vossa ajuda. Ajudem-me a decifrar este enigma… Onde morava toda esta gente?
Sempre ouvi dizer que Portugal tem aproximadamente 10 milhões de habitantes. Se a população não aumentou nestes últimos – pelo menos – vinte anos, de onde vieram as pessoas que habitam os largos milhares de novos fogos que se construíram entretanto?
Mistério… Um mistério quase tão grande quanto o do porquê de haver uma faixa exclusiva a “BUS” na Av. Conde de Margaride. Não. Para esse mistério já nem procuro explicação. Desisti. Desisti já há algum tempo de tentar perceber o que nem o Grissom do CSI entenderia. A faixa de Bus, o triângulo das Bermudas e o porquê de jogar com dopis trincos de características hiper defensivas - o Flávio Meireles e o Otacílio - contra o Trofense, em nossa casa.
Há certas coisas que me transcendem.
Lifting
Uma amiga minha, designer, achou por bem agraciar-me com uma prendinha de Natal antecipada, que eu hoje partilho convosco. A Carla Macedo, fez-me um lifting. Ou melhor, a mim não, ao meu cabeçalho. Ou não… Ao meu cabeçalho, salvo seja. Ao cabeçalho desta coluna.
Quis dar-lhe um ar mais consentâneo com o que a coluna contém, presumo. Eu gosto, aliás como de quase todos os seus trabalhos. Como a ilusão visual criada pelas colunas a “rasgar-me” a face, é a de que me encontro atrás das barras, quero que a coincidência não passe disso.
Agora mais a sério, espero sinceramente que seja do vosso agrado e aqui fica desde já o meu agradecimento.
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