16 de Março de 2007
O desporto-rei
Hoje sei que há um desporto-rei em Portugal. E sei qual é.
Olha-me este… descobriu a pólvora, dirão vocês.
Mas, na minha opinião, o desporto-rei não é aquele que estavam a pensar que era aquele que eu pensava. Não. Não é o futebol. Esse é um parente pobre, daquele que, ao que parece, interessa mesmo.
Vivemos numa ditadura, que é o regime tri-clubista. O que os senhores da nossa imprensa nacional querem que interesse resume-se a tudo e mais alguma coisa que contenha Benfica, Porto e Sporting. Importante é a fissura do Rui Costa, o trato intestinal do Pinto da Costa ou a empresária do Nani.
As restantes modalidades não valem nada e as outras equipas do desporto, supostamente rei, valem a mesma coisa.
E isso não se verifica apenas na imprensa escrita. Onde, arrisco dizer, mais de sessenta por cento das páginas são ocupadas pelo vermelho, azul e verde. Agora até na televisão. Desde que a TVI comprou os direitos de transmissão dos jogos das Ligas portuguesas, a cada Domingo, mais saudades eu tinha do velhinho Domingo Desportivo. Ao menos aí, quando a RTP passava futebol, via-se resumos. Podia não ser aquilo que nós queríamos, era melhor que nada.
Agora não. O que interessa é ter uns comentadores meios palermas, a falarem noventa por cento do tempo sobre os jogos do Benfica, Porto e Sporting e depois, muito a correr, porque, como diria uma senhora que andou pela estação de Queluz uns aninhos largos, “isso agora não interessa nada”, lá fazem o favor de mostrar um flash de uns segunditos dos jogos das “outras” equipas.
De futebol temos cada vez menos. Interessa mais tudo o que é curiosidade das vedetas dos chamados três grandes, do que um bom jogo de futebol, disputado entre equipas da província.
Mas aí a culpa também é nossa.
Sim, falo no plural porque sei que muita gente pensa como eu. Sim, sei que muita gente ficava até ao fim do programa de desporto de domingo à noite na TVI, à espera de uns míseros segundos de resumo.
E sei que muitos folheiam os jornais desportivos nacionais, à procura de um parágrafo que seja, que fale do Vitória.
E digo que a culpa também é nossa porque não fazemos ouvir a nossa voz. E ficamos contentes com pouco. E ficamos em êxtase quando dizem que estivemos muitos no Estádio.
Enquanto os jornais nacionais não sentirem que o que nos interessa mesmo são as notícias do Vitória, não nos vão respeitar. Se for necessário falar-lhes na única linguagem que entendem, faça-se.
Mas se continuarmos felizes e contentes, a comprar jornais desportivos, que nos dedicam um parágrafo e a ver programas de televisão onde só entram membros do clube dos três, não nos podemos queixar.
E o que nos resta é fazer um peditório para:
Um cenário para o “Liga de Honra”
Deprimente. No mínimo. Para não dizer desprezível.
E fico por aqui, porque senão ainda lêem esta coluna e acabam também com isso e aí é que não consigo sequer ter um minutinho de resumo dos jogos do Vitória na televisão.
Isto é q ue convém que fique marcado nas nossas memórias, para que depois de voltarmos à nossa divisão, não nos esquecermos nunca do tratamento de que fomos alvo por parte da comunicação social nacional.
A imagem de fundo do programa Liga de Honra tem de ficar para sempre registada na nossa memória como mais uma tropelia das muitas que nos fizeram.
Aquele fundo é o único que consegue ser mais feio – na minha opinião – que o do Conan O’Brien.
Porque é nesse cenário que temos a nossa única “consolação”: um mero minutinho, no Porto Canal.
Sim aquele mesmo canal da TV Cabo a que já numa coluna anterior me referi como sendo a versão 2 – só em número, mas sem a evolução que a denominação exigiria – da TV Cidade Berço. Esse canal tem um programa, terça-feira à noite, que se chama Liga de Honra. O apresentador é o Bernardino Barros e os convidados são dirigentes, treinadores e jogadores da Liga de Honra.
Assim tipo o “N Amadores”, da defunta NTV, mas com o BB em vez da Karen, o que, indiscutivelmente não abona nadinha em favor do porto Canal. O cenário também está para o do N Amadores, como a Karen para o BB.
E é esse o espaço que a televisão nos reserva.
Que não nos esqueçamos daquilo que nos estão a fazer.
Deixem guiar o Mantorras!
A lei portuguesa não permite que um cidadão angolano conduza em Portugal com uma carta de condução do seu País de origem, como acontecia até há uns anos atrás.
Pedro Mantorras é mandado parar pela polícia portuguesa e autuado (não sei ao certo qual a coima e a gravidade da infracção, mas imagino que não se fique por uma sanção pecuniária) por conduzir sem carta de condução – a angolana não é reconhecida, logo é como se não tivesse carta.
Em Angola, retalia-se. Tudo o que é cidadão português que conduza na ex província ultramarina, com carta portuguesa, é conduzido à esquadra local e recebe o mesmo “tratamento” do Mantorras.
Consta-se que o Governo Português já está a providenciar a alteração na lei, para voltar ao que já foi, i.e. reciprocidade no reconhecimento das cartas de condução.
E não dava para prever isto antes? Será que temos sempre de reagir, depois do mal feito? E isto só aconteceu porque teve a visibilidade mediática de ter acontecido com um internacional angolano, jogador (?) do Benfica? A quantos cidadãos angolanos terá acontecido isto?
Não podemos só debruçar-nos sobre este assunto agora e ficar com “pena” do que está a acontecer aos portugueses em Angola.
Bastava pensar um pouco e ver que isto iria acontecer… Mas pensar é coisa que os nossos governantes fazem pouco.
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