11 de Agosto de 2006
SIMPLEX
Cá fora um calor abrasador. Pico do calor de Verão. Entro numa repartição pública. Fresquinho. Ar condicionado a trabalhar bem. Por momentos até me esqueço que estou a deslocar-me lá propositadamente para entregar em mão uma folha – pomposamente apelidada de impresso – que facilmente poderia e deveria ter sido aceite por fax ou e-mail. Mas…
O fax... está no gabinete do chefe. E-mail, como sou estagiário, não tenho. Sabe… sou novo aqui e ainda não tenho endereço personalizado – disse-me o doutor que me atendeu uma semana antes.
Nem lhe passou pela cabeça sugerir ao chefe que pedisse à informática um endereço de e-mail, não com o nome, mas por exemplo com o cargo. Ou até estagiario@*.gov.pt. E-mail sem nome e de preferência o título honorífico antes? Nunca, isso nunca! Antes nenhum que esse. Oh desprestígio!!!
O que é certo é que hoje, ao dirigir-me ao gabinete do “doutor” sou parado pelo segurança. A sala está completamente vazia mas, mesmo assim, o moçoilo faz questão de me indicar a maquineta das senhas, para que tirasse uma, para que fosse posteriormente chamado, para que então pudesse ser atendido no guichet da triagem, por uma menina que me disse, numa brilhante conclusão apenas ao alcance de alguém que faz daquele o seu metier, que para entregar o dito cujo, tinha mesmo ir ao gabinete do “doutor”. Brilhante. Fez-me ver a luz. Aquilo que eu já sabia teve de ser ratificado por dois funcionários.
Depois é complicadex não me rir quando me falam no Programa de Simplificação Administrativa e Legislativa, o famigerado SIMPLEX.
(Música) Pós Modernos, GNR
(…) Mas com uns pós modernos nada complicados, sentimo-nos realizados (…)
O perigo das zonas de fronteira
Se uma empresa constituída hoje – por exemplo no programa “Empresa na Hora” – precisar de abrir uma conta num banco, tem de apresentar uma declaração de não dívida à Segurança Social e às Finanças. Ainda que as operações sejam feitas no mesmo dia esse documento é imprescindível.
Depreende-se então que, tendo constituído a empresa em Braga e abrindo a conta em Guimarães, aqueles minutos de passagem na Morreira (essa terrível zona fronteiriça) podem ser passíveis de contracção de dívidas fiscais monstruosas.
(Separador) Monty Python
And now for something completely different.
Hombridade
O meu colega de partido Orlando Coutinho anunciou que vai, no seguimento da derrota da lista que encabeçava para a concelhia do CDS, abandonar a vida política activa, para que possa deixar trabalhar quem para tal foi eleito. Abdica também – no imediato – do seu cargo de deputado municipal, pois é seu entendimento de que foi o partido que o lá pôs.
Atitude honrada. Saber perder. Dignidade.
Como seria bom que o exemplo local servisse de inspiração a quem continua a pôr-se em bicos de pés, assobiando alegremente para o lado, embolsando chorudos ordenados de deputado, fazendo ouvidos de mercador à vontade do partido, em cujas listas foram eleitos e do qual a sua eleição dependeu, partido esse que em congresso, já por duas vezes mostrou estar-lhes desfavorável. Só vem dar ainda mais razão ao meu texto da passada semana. O dos interesses. E da abnegação. E das atitudes que ficam com quem as toma… Da vergonha. E da falta dela.
(Música) Bob Dylan, Blowin’ in the Wind
How many roads must a man walk down, before you call him a man (…)
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